O Grande Gatsby é um clássico que pode ser encontrado nas mais diversas listas de livros de leitura obrigatória, ainda que, durante a vida do autor não tenha tido o sucesso desejado. A obrai haveria de ser reanimada durante a Segunda Guerra Mundial quando foi distribuída gratuitamente aos soldados. Recentemente foram lançadas duas adaptações para banda desenhada, uma pela Relógio d´Água e outra pela A Seita. É esta segunda de que falo aqui, atraída pelos fabulosos desenhos do português Jorge Coelho.

A história decorre durante o ano de 1922 e apresenta-se segundo a perspectiva de Nick Carraway, um veterano da Primeira Guerra Mundial com frequência em Yale que se pretende estabelecer como vendedor de instrumentos financeiros. Para tal, aluga uma casa em Long Island, perto da mansão de uma prima em segundo grau, Daisy, casada com um colega de escola, um jogador de futebol americano, chamado Tom. Apesar do luxo que os rodeia (ou mesmo por causa disso) percebemos que é uma relação conflituosa. Tom tem, visivelmente uma amante, e Daisy, de namoricos vários no passado, oscila entre vários humores.

Mas Nick não frequenta apenas a mansão de Daisy. Ao lado da sua casa encontra-se uma imponente e misteriosa mansão, pertencente ao não menos misterioso Gatsby. Apesar de apresentar referências, estas parecem ser duvidosas ou, pelo menos, difíceis de confirmar. Este Gatsby organiza extraordinárias festas, às quais várias dezenas se deslocam. Convidado pelo milionário, Nick frequentará, também, estas festas, sendo convidado para outros passeis. Desde cedo Gatsby dá a entender que pretende algo de Nick, mas sem revelar exactamente o quê.

O enredo desenvolve-se lentamente, alongando alguns dos mistérios em torno de Gatsby, e crescendo em tensão – pelo menos até ao momento em que se descobre o motivo pelo qual Gatsby se aproxima de Nick. A partir daí as várias perspectivas apresentam uma série de desgraças relacionadas, desvendando-se todos os mistérios. Pelo menos para Nick.

A história apresenta as festas glamorosas, o luxo e a ostentação dos ricos da época, não só através das das confraternizações, mas pela postura nas interacções, na despreocupação com o dinheiro, na arrogância das atitudes. Todos estes elementos são representados por Tom e Daisy, contrastando com Gatsby que, apesar das festas formidáveis, se apresenta mais acessível e mais sonhador.

Aliás, diria até que é o estilo de vida que une Tom e Daisy porque em tudo o resto parecem opostos. A classe rica, inatingível, distante e incompreensível, pensa e sofre de forma diferente. Nitidamente. Assim se explica a união de Tom e Daisy que, com o casamento garante a manutenção de um determinado luxo e posição apesar de todos os constrangimentos e desentendimentos.

A história é, também, um comentário às diferenças sociais, às diferenças de oportunidades, começando a narrativa com um conselho apropriado (abaixo). A par com este comentário, explora a impunidade dos mais ricos, e o diferente valor da palavra e da vida consoante a origem social.

O meu pai deu-me um dia um conselho que, desde então, me anda às voltas na cabeça. «Sempre que sentires vontade de criticar alguém, lembra-te disto: Neste mundo, nem todos tiveram as vantagens que tu tiveste».

Para além de ser uma boa leitura, este volume destaca-se pelo aspecto visual. O luxo a que a história se refere é transmitido não só pela representação da ostentação, mas também pelos detalhes visuais. Para além das imagens nos quadrados, os separadores de capítulo são fenomenais, com padrões luxuosos e alusivos à época.