Com um visual fofinho e lançado por uma editora pouco conhecida pela BD no nosso mercado, este volume acumula diversos prémios e nomeações, destacando-se o Prémio Angoulême para BD Jovem. O Príncipe e a Modista parece distinguir-se entre outros volumes lançados em Portugal, quer pelo público alvo, quer pela temática.
A história começa por se apresentar como um amoroso conto moderno, com traços que recordam clássicos como a gata borralheira, em que se organiza um baile para que o príncipe possa encontrar uma noiva. É neste seguimento que uma rapariga convence uma jovem modista a optar por um desenho mais ousado e desafiador.



A partir daqui a narrativa lança-se por caminhos mais modernos e inovadores. É que o príncipe fica mais interessado na modista do que quem enverga o vestido – até porque pretende que a modista que lhe faça os próximos vestidos. Mas, claro, que o príncipe não se sente à vontade em assumir o gosto por vestimentas femininas à sua família, com receio das consequências públicas. Entre os dois, modista e príncipe estabelece-se um relacionamento de cumplicidade.
O Príncipe e a Modista apresenta uma história doce, mas sem excessos, criando personagens com quem se simpatiza facilmente por serem imperfeitas, tempestuosas e, até, inseguras e desastradas. Ou pelo menos nalguns momentos – até porque o processo de amadurecimento passa, por vezes, por se dar demasiada importância ao que se espera de nós. Como balancear expectativas familiares ou de uma chefia profissional com aquilo que realmente é importante?



Existem, claro, momentos de entendimento e de desentendimento que criam a tensão da história e a fazem movimentar. O príncipe e a modista estabelecem uma relação de amizade (inicialmente) e ainda que se dêem bem, existem momentos de menor alinhamento.
Trata-se de uma história simples, de construção algo clássica, apesar dos detalhes mais inovadores, acompanhada por uma arte também simples, simpática e amorosa, muito focada na transmissão de sentimentos, expressões e reacções.



Claro que se percebe que um dos elementos mais fundamentais na narrativa é a discussão sobre identidade, diferenças e aceitação, onde as personagens irão ter de enfrentar alguns preconceitos. Claro que existirão reacções no sentido de esconder, mas ultrapassados esses momentos, a narrativa passa a uma abordagem mais construtiva e de respeito.
O Príncipe e a Modista é uma leitura fofinha, simpática e envolvente, destinada a um público mais jovem, mas que pode ser, claro, lido por uma público mais maduro sem que se apresente demasiado trágico ou sentimental. É uma leitura balanceada que aborda de forma sensível um tema delicado, fazendo-o, no meu entendimento, de forma desafiadora e construtiva.
