
O primeiro volume da série tinha apresentado uma história carregada de acção, mistério e tensão, que decorre no início do século XX, numa pequena vila do Alabama. Não sendo um género que normalmente me agrade, o cruzamento do quotidiano do interior americano (carregado de manipulações e artimanhas) com os elementos sobrenaturais e misteriosos (bem doseados) conquistou-me. Li rapidamente o segundo volume e estou agora à espera do já anunciado terceiro volume.
Elionor tinha chegado à cidade de Perdido no meio de uma cheia, tendo perdido todos os seus pertences e papéis. Rapidamente assume o papel de professora, mas os seus interesses parecem antes envolver o filho solteiro da família Caskey. Ainda que todos na cidade pareçam gostar de Elionor, a matriarca da família, sentindo a competição pelo filho, tudo fará para a afastar. Sem sucesso.
Neste segundo volume, Elionor já vive na sua própria com o marido, dando à luz uma segunda filha, cuja gestação não parece ter exactamente o tempo certo. Em paralelo, a construção de uma barragem parece inevitável, mas ao invés de se opor, Elionor parece agora estranhamente conformada. Com a construção, várias dezenas de homens chegam em busca de trabalho, mas a sua convivência na cidade não será totalmente pacífica e trará contratempos.



Tal como o primeiro volume, a acção decorre alternando entre personagens. Ainda que Elionor seja, sem dúvida uma personagem principal, e vários episódios se foquem nela, mas nunca somos levados a perceber o que pensa ou o que a move nas suas acções. Assistimos, em lugar privilegiado a algumas ocorrências sombrias, mas é das outras personagens que vamos usufruir desta proximidade pontual, percebendo o que as motiva e justificando-se assim as suas acções.
Elionor é, dessa forma, o elemento misterioso e sobrenatural. Não só porque se desconhece a sua origem (ainda que existam suspeitas do leitor por conta de alguns detalhes), mas porque Elionor é capaz, sem dúvida, de transformar a sua aparência. Tal é totalmente evidente no início do primeiro volume e ainda que esta dualidade seja explorada raramente, existem referências suficientes para nos recordar ao longo da história.
Agora que Elionor tem a sua própria casa, parece que esta componente sobrenatural se expandiu para o seu lar, onde, existindo mais quartos do que aqueles que precisam de usar, há barulhos injustificados, sombras mal colocadas e acontecimentos sobrenaturais. De tal forma, que a criança irá evitar determinadas áreas da casa.



A componente sobrenatural expande-se para além da casa de Elionor, havendo, muito raramente, a descrição de episódios nocturnos, com direito a muito sangue e detalhes horripilantes. Estes episódios estão bem pontuados e são um complemento ao crescente de tensão que se vai sentindo na narrativa, parecendo, por vezes, dado o enquadramento, ligeiramente surreais ou sonhadores – perspectiva partilhada pelos poucos moradores da vila que assistiram a algo estranho durante a noite.
Tal como no primeiro volume, a leitura é fluída, entre o mistério que se adensa, as interacções dramáticas entre os habitantes, e os pequenos saltos narrativos. A história assume, por vezes, um tom de novela que, claro, é viciante, mas que ganha mais interesse com os tais elementos sobrenaturais. De alguma forma, gostei mais do primeiro volume, que possui mais elementos intrigantes, mas mesmo assim, espero ansiosamente pelo próximo volume, já anunciado pela Editorial Presença.