Aqui há uns aninhos largos (quinze?) li o meu primeiro livro de Connie Willis, To say nothing of the dog, uma novela de ficção científica com toques de ridículo que tem como premissa principal as viagens no tempo, levando-nos para a época victoriana. Blackout, outro livro da mesma autora, também usa as viagens no tempo como ponto de partida para a sua narrativa. Já este The Road to Roswell, promete algo bastante diferente.

Francie desloca-se a Roswell para um casamento, sabendo que vai ser tudo menos banal. Ou a sua grande amiga não tivesse tendência a ficar noiva de adeptos de teorias de conspiração ou de obcecados por cenas malucas. A juntar a esta expectativa, Francie descobre que a cidade vai estar apinhada de pessoal que segue avistamentos alienígenas, sendo que se aproxima um famoso festival, comemorativo do despenhar de uma nave.

Envolvida em toda esta loucura inicial, Francie é rapidamente desviada do casamento, quando é raptada no carro da amiga. Por um alienígena. Sim, isso mesmo. Francie é raptada por um ser de outro planeta que pretende que ela o guie numa direcção incerta. Sem idioma em comum, a confusão está destinada a acontecer. Sobretudo quando outros seres humanos vão sendo raptados pelo caminho.

The Road of Roswell é um livro que não parece querer ser levado a sério, transmitindo uma aura de boa disposição, baseada, sobretudo, em confusões e interacções curiosas. Entre os raptados encontramos um vendedor de seguros contra raptos alienígenas, um adepto das teorias da conspiração, uma velhinha viciada em casinos. Todos juntos focam-se em ajudar o alienígena. Bem, não todos. O viciado em teorias de conspiração sobre extraterrestres acha que vai ser alvo de experiências obscuras.

Apesar das dicas deste obcecado em interacções estranhas com extraterrestres, percebe-se que o alienígena está aflito e que procura qualquer coisa. Entre mapas, vídeos e escrita, eis que lá conseguem comunicar minimamente.

A história é basicamente isto – uma viagem de carro (e mais tarde de caravana) onde um grupo de pessoas está retido por conta do alienígena, tentando ajudá-lo, sem chamar a atenção das autoridades. Cada personagem tem um estilo muito próprio, quase estereotipado, interagindo progressivamente em diálogos cada vez mais mirabolantes, sem perder a aura cómica e o toque de romance.

Tal como outros livros da autora, apresenta momentos em que os diálogos se alongam demasiado, havendo várias páginas em que as conversas apresentam pouco de inovador ou de inesperado. A narrativa vai-se aguentando mais pelo mistério em torno do extraterrestre (qual é, afinal, o objectivo dele? claramente não pretende fazer mal a ninguém), tornando-se, por vezes, algo repetitiva em conceito, o que provoca o crescimento dos raptados.

A narrativa vai ganhar um novo folgo quando, finalmente, o alienígena consegue começar a conversar com os humanos, sendo que aqui começam outras piadas – o constante questionar do significado das palavras, dos conceitos ou das figuras de estilo. Há, claro, entendimentos e desentendimentos que contribuem para tornar a situação ainda mais cómica e curiosa.

The Road To Roswell é uma leitura ligeira, que junta conceitos de ficção científica, numa aventura cómica e romântica. É, sobretudo, uma leitura fluída, ainda que se alongue excessivamente num ciclo de raptos e conversas – sobretudo a meio, onde parece existir um momento de indecisão de como prosseguir a narrativa. Ainda assim, é uma leitura aconselhável para quem procura algo leve e mirabolante, num conceito original mas simples de perceber e desenvolver.