Bestseller do New York Times, O que guarda o rio é um dos mais recentes lançamentos fantásticos lançado pela Gailivro, que promete uma mistura de elementos fantásticos (magia) e arqueologia egípcia, centrando-se numa mulher de origens sul-americanas. Uma mistura curiosa, apresentada sob uma capa misteriosa, mas não demasiado romântica que promete algo engraçado. Não me cativou totalmente e tem elementos que teria cortado para fortalecer a história.
A história leva-nos ao século XIX, onde encontramos Inez Olivera, uma jovem boliviana-argentina que é educada na alta sociedade pelos familiares, dado que os pais se encontram permanentemente em viagem para o Egípcio, visitando Buenos Aires apenas em raras ocasiões. Atingindo os 18 anos, Inez pretende pedir aos pais que a levem para o país africano, onde espera aplicar os conhecimentos que foi adquirindo.
Mas quando esperava a tão aguardada resposta, recebe uma carta do tio informando que os pais terão morrido no Egipto, sendo agora o tio o tutor da sua fortuna. Chocada, Inez resolve fazer a viagem para o Egipto sozinha, esgueirando-se da família sem companhia, algo escandaloso na época. Dizendo-se viúva, consegue chegar ao Cairo, onde encontra o tio e os seus parceiros de negócios,
A partir daqui, Inez envereda por uma série de mirabolantes aventuras, onde se esgueira com eficiência às tentativas de controlo do tio, forçando a sua presença numa expedição de arqueologia onde as suas capacidades artísticas (desenho) poderão ser úteis. Adicionalmente, terá uma apurada capacidade de detectar objectos mágicos.
Ultrapassando o facto de Inez ter sido educada em alta sociedade no século XIX (e, portanto, sempre acompanhada), e a mestria com que parece ser capaz de se desenvencilhar em localizações que lhe são estranhas, O que Guarda o Rio apresenta outras incoerências que são mais difíceis de perdoar. Existe efectivamente uma incoerência na forma como algumas personagens são caracterizadas e nas suas acções, havendo detalhes que não combinam entre o início e o final da história.
Para além disso, existe um sentido de urgência constante na expedição que não me é totalmente compreendido, nem bem transmitido durante a maioria do livro. Existirá outro grupo que pretende chegar ao túmulo de Cleopatra, mas as evidências da existência desse grupo resumem-se a um breve encontro no início da história, e a uma sucessão de episódios de acção e violência no final do livro. Ou seja, a urgência até poderá ser justificada com esta sucessão de episódios, mas durante grande parte do desenvolvimento do livro, não é bem sentida.
Mas há outros factores que me deixaram menos contente com a progressão do livro. Inez aproxima-se de um dos parceiros do tio, um homem em idade apropriada, uma personalidade sombria com problemas passadas com a qual tem interacções quezilentas, que, de alguma forma, são determinantes para uma proximidade romântica. É um pouco preocupante ver o perpetuar de padrões de relacionamento que podem ser considerados tóxicos.
Bem, já falei da arqueologia, e da história, mas então, onde se encontram os detalhes mágicos? Pelos vistos no Universo aqui referido, alguns objectos podem conter magia, com funções muito limitadas. São elementos mágicos pontuados, que só se revelam em momentos chave para resolver algum detalhe que de outra forma seria difícil de explicar. São, na prática, mais uma solução narrativa do que uma característica do Universo.
E pontos positivos? Também existem. Em termos de fluidez e concretização, O que guarda o Rio está bem escrito. Promete uma combinação curiosa de elementos (século XIX, arqueologia e magia) e entrega parcialmente. Mas não compreendo como integra os bestsellers do New York Times. É fraco em coerência, tanto na caracterização de personagens como no desenvolvimento lógico – com alguns detalhes que não irei fornecer, para não “spoilar” o conteúdo. É pouco provável que pegue na continuação.

