Nomeado para o Locus Award, este é o segundo livro que a Desrotina lança de TJ Klune. O primeiro, A casa no Mar Cerúleo, tinha ganho o prémio Mythopoeic de fantasia é uma leitura acolhedora, engraçada, positiva, ligeira e fluída. E muito gratificante do ponto de vista emocional, ainda que seja uma história simples, e relativamente linear. Tal como esta. Na onda do fofinho e divertido, Klune destaca-se com narrativas bem construídas e positivas – demasiado, para alguns leitores.

Wallace é um advogado de sucesso – o típico esperto que se torna rico com o uso da sua canalhice, focando-se quase exclusivamente na sua profissão, e apresentando-se frio com funcionários e todos os que o rodeiam. Quando, ainda relativamente novo se vê morto, tem alguma dificuldade em perceber que as urgências da vida já não se lhe aplicam.

E é aqui que entra Mei e Hugo. Mei é um anjo da morte, destacada para acompanhar Wallace, encontrando-o no funeral. É aqui que o antigo advogado percebe que a ex-mulher não o chora verdadeiramente, e que os sócios na realidade não o estimam, mas o vêm como um canalha frio e distante.

Levado para uma casa de chá com aspecto peculiar, Wallace conhece Hugo – o barqueiro que tem como função ajudá-lo a passar pelas fases do seu próprio luto, para poder atravessar a porta para o que existirá do outro lado (que ninguém sabe realmente, mas que segundo as descrições, trará paz e alegria para quem o souber aceitar).

Aqui, conhece outras personagens peculiares. O avô de Hugo permanece na casa de chá como fantasma, preocupado com o neto que parece ainda não ter construído uma existência de segurança afectiva (ainda que tenha uma elevada maturidade emocional), tal como o cão que tem um papel curioso. Para além destas personagens que vão fazer parte do quotidiano, existem os clientes regulares da casa de chá – os vivos que desconhecem a segunda função daquela casa.

A história vai apresentando as novas circunstâncias de Wallace, ao mesmo tempo que o faz experimentar situações cómicas que facilitam a criação de empatia. Ser um fantasma não é fácil, mas Wallace parece ter um dom natural para tal – ainda que as tentativas de mudança de roupa resultem em momentos constrangedores.

Cada uma das personagens possui uma personalidade bastante diferente mas que, de alguma forma, complementa as restantes. As personagens estabelecem lações de amizade, as personalidades desenvolvem-se e as interacções mais caricatas resultam em momentos desastrados mas calorosos, onde existem interacções e bom humor.

O resultado é uma leitura envolvente e bem disposta, apesar do tema que as envolve – a morte. O autor explora a premissa com tacto e sensibilidade, sem deixar de lado os temas difíceis, as mortes traumáticas, o luto e a saudade, balanceando-os com os tais momentos bem dispostos, apesar de não faltarem, também, as personalidades tóxicas.