Na sequência de Giant, existem mais dois volumes do mesmo autor que foram entretanto lançados no mercado português pela Ala dos Livros. Giant tinha-nos levado à cidade de Manhattan nos anos 30, focando-se nos trabalhadores da construção civil que migraram da Europa para obterem melhores condições. Este apresenta-nos também à nova onda de migração, mas possui um foco e uma execução distintas.

A história tem como personagem principal Al, um jovem de origens pobres, cuja família também migrou em condições miseráveis para o Novo Mundo, em busca do sonho americano. Um incêndio faz com que Al seja mais um órfão a viver na rua e a subsistir como engraxador de sapatos. Mas claro que também aspira a outros rendimentos, acabando por usar esta sua profissão como fachada para transporte de dinheiro.

Para além da pobreza, a existência de Al é marcada pelas suas origens europeias, havendo uma certa lealdade que se espera dos de origem semelhante – até porque existem diferenças marcantes entre as famílias que migraram muito antes e os novos migrantes. Tal é visível até nos episódios que alternam com esta existência urbana, onde encontramos Al como soldado na Segunda Guerra Mundial, mostrando-se que, nem aqui as suas origens são esquecidas.

Tal como no primeiro livro, este apresenta-nos a realidade dos que chegam aos Estados Unidos da América durante o século XX, em condições de pobreza que limitam a integração, tanto dos que migram, como dos seus descendentes. A via de escape é, pois, a criminalidade. Talvez por isso, exista, em contrapartida, uma necessidade mais forte de afirmar e reiterar origens, de fazer destas uma identidade e motivo de orgulho aliança. Nestes bairros pobres, as origens determinam, pois, os gangues a que podem pertencer.

Apesar destas referências comuns ao primeiro volume, este segundo apresenta alguns pontos distintos. A execução da história é mais directa e menos elegante, com mais reviravoltas e saltos temporais, apesar do foco quase exclusivo na personagem. Al é, também, uma personagem mais tempestiva e directa, e, consecutivamente menos misteriosa. O seu final, apesar de acre, é apropriado e pouco surpreendente.

Em paralelo, refere-se a condição feminina. As condições miseráveis atingem-nas tanto quanto aos homens, mas a impossibilidade de viverem e trabalharem de forma independente fazem com que, em adição à pobreza, se tenham de submeter a abusos ou violência, procurando sair do ambiente doméstico, mas tendo de optar por um restrito conjunto de opções.

Apesar de ter, notoriamente, gostado menos do que o primeiro volume, é, ainda assim, uma excelente leitura, acompanhada por desenhos em tom sépia (apropriados para a época retratada), expressivos mas focados no que interessa para a narrativa. A história foca-se numa personagem de dura vivência que toma más decisões, mas que, na verdade, não tinha muitas mais opções.