Curioso como as leituras se interligam! Este volume, lançado em Portugal pela Ala dos Livros, começa com uma introdução de Tripp, onde nos refere o local onde trabalhava com Loisel para a criação de Armazém Central: por cima da secretária encontrava-se a célebre foto Lunch atop a Skyscraper, onde se pode ver um conjunto de homens que almoçam sentados numa viga suspensa. Mas quem são estes homens e de onde vêm?

A história

Nos anos 30 Nova Iorque está em plena expansão. Não havendo terrenos para expandir o espaço urbano em largura, opta-se pela construção em altura, com enormes arranha-céus. As condições de trabalho são precárias e perigosas. Morre um homem a cada dez andares e é comum os trabalhadores terem de comunicar com as famílias dos falecidos colegas para darem a notícia.

É neste enquadramento que ficamos a conhecer um conjunto de trabalhadores de origem irlandesa que procura fugir da miséria emigrando para os Estados Unidos da América em busca de oportunidades. Neste caso, vivem em barracos e aceitam trabalhos na construção civil, amealhando para que as suas famílias possam viajar também para os Estados Unidos, ou, pelo menos, viver em condições mais dignas.

Giant é um destes trabalhadores – um homem forte e silencioso, a quem ninguém ouve uma palavra. Quando mais um colega morre na obra, é encarregue de informar a viúva. Ao invés disso, Giant comunica enviando dinheiro e palavras agradáveis, julgando assim estar a ajudar a família do colega. Mas na verdade, estas palavras levam a viúva a fazer planos impossíveis.

Crítica

Giant é um retrato muito humano dos que têm de deixar a sua família e o seu país em busca de condições melhores. Mas o sonho de enriquecer depressa, desvanece-se rápido. Ainda que encontrem trabalhos, estes são perigosos e com más condições, e os trabalhadores unem-se em uniões, como forma de contrapor a força dos patrões.

Cada trabalhador traz consigo uma outra vida: inúmeros filhos numa outra terra, lembranças de namoradas ou tragédias que tentam esquecer. No caso de Giant, recordam-se as lutas nacionalistas (mais precisamente o IRA) que marcam a existência irlandesa de várias formas.

As origens continuam a fazer parte de cada um, e acabam por justificar novas ligações, sejam amorosas ou amizades, reflectindo-se na união e na interajuda. A nacionalidade é usada como raiz num mundo desconhecido, e ostentada como motivo de orgulho e de identidade, embelezando-se as origens com saudade.

Este confronto entre os dois mundos, o de origem e o actual, é visível, sobretudo, nas cartas trocadas entre Giant e a viúva do colega. A cada troca de correspondência somos confrontados com a jovem mulher que lê os textos do suposto marido, demonstrando-se a localização em que se encontra.

Os dois ambientes, o urbano de Manhattan e o rural irlandês, são opostos em sensação e em visual. Enquanto que o ambiente citadino americano é representado de forma sombria, entre os castanhos e os cinzentos, as paisagens rurais são verdes, abertas e carregadas de natureza. Denota-se, claro, a pobreza das origens, mas existe uma aura doentia na cidade que, apesar de tudo, está associada às novas oportunidades e à esperança numa vida melhor.

Opondo as circunstâncias de vida e explorando o passado de alguns trabalhadores, a narrativa de Giant sucede em tornar-se cativante. Percebemos as circunstâncias que envolvem estes emigrantes e o que procuram no novo mundo, o que os faz manterem-se num trabalho perigoso e o que os faz pensar nas origens. Uma homenagem fabulosa!

Conclusão

Conforme já o disse em relação a outros livros, Giant é uma boa leitura que comete o pecado de ter sido lançado entre outras publicações excelentes, correndo por isso o risco de poder passar despercebido entre os leitores. É, no entanto, uma obra de boa qualidade, quer a nível narrativo, quer a nível visual!