Eis, finalmente, o terceiro e último volume da trilogia de fantasia romântica (ou mais Romantasy como é denominado o género que mistura a fantasia e o romance) que se centra numa académica envolvida com a realeza das fadas. Como já destaquei ao falar dos dois livros anteriores, não estamos a falar de fadas fofinhas, mas de fadas na tradição céltica, existindo vários tipos de criaturas sob essa denominação, desde faunos, a duendes e trasgos.

A história centra-se, como o título indica, em Emily Wilde, uma conceituada académica que se dedica a estar as fadas, com vista à publicação de artigos ou livros académicos. No primeiro volume (já lançado em português) acompanhamo-la ao Norte longínquo, onde tenta estabelecer laços com as criaturas locais, com vista à construção de uma Enciclopédia. Ainda que Emily seja muito boa a estabelecer contacto com as fadas, a verdade é que com as criaturas terrestres não é tão capaz. Felizmente, o charmoso colega Wendell desloca-se para a ajudar, demonstrando as suas capacidades de captar a atenção dos locais – não fosse este Wendell uma fada que vive há vários anos entre os humanos.

Se, no primeiro volume assistimos às desventuras do duo (Wendell e Emily) que acaba por se envolver romanticamente (ainda que este romance seja menos central do que os perigos por que passam) e no segundo volume vemos como procuram uma porta para que Wendell possa voltar ao seu reino, neste terceiro, acompanhamos o par que agora toma posse de um dos reinos das fadas mais perigosos de que existe descrição. Ou tenta – isto porque a anterior rainha, a madrasta de Wendell, terá impregnado a terra numa maldição que se espalha assustadoramente. Enquanto Wendell assume o trono e restabelece as cortes, Emily procura referências académicas que possam ajudar a recuperar da maldição.

Apesar de estar classificado como Romantasy, a verdade é que a história é mais fantástica do que romance, estando o romance remetido para segundo lugar, e havendo neste terceiro volume um foco tão extremado nas investigações de Emily que o relacionamento com Wendell é praticamente inexistente. O que é uma pena, dado que um dos aspectos mais interessantes dos volumes anteriores é a forma como Wendell age segundo uma lógica muito própria, com um padrão de prioridades diferente do usual.

Emily, como académica, é demasiado focada na sua área de interesse, demonstrando um comportamento quase anti-social. Não que o seja de forma propositada, mas Emily tem nitidamente dificuldades em captar subtilezas e simpatias, dando respostas demasiado frontais que antagonizam nos ambientes mais rurais. Em compensação, as interacções do mundo das fadas que se regem por regras bastante mais definidas (mesmo que ilógicas) são mais facilmente percebidas por Emily, que as interioriza e utiliza com eficácia. Este conhecimento será necessário para lidar com a maldição, desenvolvendo-se uma lógica própria na interpretação de lendas e costumes.

Enquanto que, nos volumes anteriores, a história começa num mundo semelhante ao nosso (mas com baixa evolução tecnológica, e uma forte academia) e vão decorrendo interacções com criaturas fantásticas e rápidas incursões a diferentes reinos das fadas, este volume decorre quase no sentido inverso. Após uma breve investigação inicial, o par entra no reino de Wendell para lá viver, e passam a existir incursões ao mundo dos humanos para investigação académica e ocasional interacção social.

Talvez por isso, e tendo em consideração que o reino de Wendell é um dos mais perigosos, o ambiente é particularmente negro. A cada esquina existem novas ameaças e criaturas aparentemente inocentes podem camuflar os mais diversos riscos. Para além disso, apesar de ser o evidente herdeiro ao trono, a sobrevivência da madrasta faz com que todas as criaturas com as quais se cruzam possam ser potenciais traidores, o que cria maior tensão nas interacções e, consequentemente, na narrativa.

A história oscila entre a acção e a investigação. Existem alguns ataques à integridade física de Wendell e Emily, com fadas semi zombies e criaturas peculiares, o que resulta em boas cenas de batalha. Mas não só. Como foi dito anteriormente, as capacidades académicas de Emily serão fulcrais e existe também espaço para a leitura de longos tomos, onde se revelam algumas lendas que podem ser a chave para a maldição. O desenvolvimento destas teorias é, também, um elemento fundamental nesta história.

Para além deste factor determinante para dar a volta à situação (conhecer as lendas das fadas e o seu padrão) existe outro elemento que vai ditar um rumo diferente do esperado – inspirado por Emily, ambos acabam por procurar o conhecimento das fadas inferiores, criaturas menores que são normalmente desprezados pela realeza, mas que aqui, vendo-se necessárias e ouvidas, revelam informação crucial para todo o enredo. Esta vertente parece iniciar uma verdadeira revolução social entre as criaturas.

Apesar de ter adorado a leitura deste livro, sobretudo pelos detalhes fabulosos das lendas e por apresentar a tal lógica muito própria das fadas, considerei que é o mais fraco dos três. Como referi anteriormente, a interacção das duas personagens principais é mais reduzida, o que retirou do foco narrativo uma relação que fornecia dinamismo e comicidade. Esta menor comicidade ajudaria a balancear a aura mais negra deste último volume, fazendo com que a leitura seja um pouco mais pesada do que nos volumes anteriores. Ainda assim, é uma leitura carregada de interesse, que se destaca pela estranheza das criaturas.