E eis que li este livro mesmo no tempo certo – exactamente na mesma semana em que se sabe que é vencedor do prémio Hugo! O autor tem outros livros conhecidos e premiados (como The Mountain in the Sea) e este, lançado pela Tor.com, tem sido bastante badalado, levando a que as minhas expectativas fossem elevadas. Talvez por isso, gostei de o ler, mas não o achei extraordinário – pelo menos em termos de escrita, dado que o conceito é bastante original.
A história leva-nos a um futuro onde os elefantes se extinguiram. Pelo menos os que existem em estado selvagem. Os poucos espécimes que restam estão em cativeiro e não apresentam os comportamentos típicos, tanto a nível hierárquico como em relação a estratégias de sobrevivência. Não é, assim, de estranhar que os mamutes que são “construídos” pelos humanos, usando DNA de mamute e de elefante, careçam, também eles, de conhecimentos para sobreviver na natureza.
A solução? Colocar a consciência de uma humana no corpo de um mamute, para servir de guia para os restantes em como agir. A humana escolhida é peculiar – uma profissional em comportamento animal, sobretudo elefantes, que terá morrido, há muitos anos, a defender os últimos elefantes, às mãos dos caçadores furtivos que enriquecem com o marfim.
A narrativa decorre entre saltos temporais, com o mamute de consciência humana a recordar-se da sua existência anterior, memórias vívidas proporcionadas pelo novo corpo, que vão explicando o fascínio pelo animal, numa narrativa que encontra um final quase perfeito para a existência no corpo de mamute. Esta forma de contar a história proporciona o entrelaçar das duas existências, mas também alguma falta de linearidade.
Mas a história não se baseia apenas nos mamutes, mostrando como os indígenas, pobres, restritos à sua existência limitada, entre os recursos naturais e os elevados montantes proporcionados pelos caçadores, tentam fugir à sua condição, sendo usados como informadores, sem poder escapar ao ciclo de violência para com os elefantes – e agora, para com os mamutes.


Já a (reduzida) perspectiva dos caçadores é menos empática, mostrando-os ricos e gananciosos, de elevada tecnologia, e baixa empatia, focados na possibilidade de riqueza, ansiosos por matar mais um animal diferente, levados pela adrenalina e pela ganância.
A narrativa é pausada, sobretudo nas partes dedicadas às memórias que são, sobretudo mais familiares. As várias personagens são pouco desenvolvidas, e mesmo a personagem que se transformar num mamute é difícil de perceber. Por um lado porque a nova existência restringe a sua dimensão humana, por outro porque a parte mamute é difícil de transformar em palavras. A sua existência é, sobretudo, solitária. Por um lado recorda-se da sua humanidade. Por outro, não consegue ser totalmente um mamute, agindo antes como um elemento estranho mas suficientemente familiar para guiar os animais nos costumes de sobrevivência da espécie que estudou.
Do ponto de vista tecnológico, a história apresenta a reconstrução de espécies extintas, mostrando como há toda uma dimensão para além do DNA, hábitos de sobrevivência que vão sendo passados por convivência. Existe, também, a possibilidade de fazer um backup das memórias e mentes humanas, e, neste caso, a audácia em colocar essa memória / mente num outro animal.
The Tusks of Extinction destaca-se sobretudo pelas ideias, centrando-se na recuperação de espécies, mas adicionando uma solução original para forçar a adaptação ao meio ambiente. Em termos narrativos é algo pausado e saltitante, desenvolvendo pouco as personagens, o que dificulta o envolvimento do leitor. Talvez seja a novidade que tenha ditado o prémio Hugo na categoria, ainda que tenha, até agora, apreciado mais outros nomeados como The Butcher of the Forest ou The Pratice, The Horizon and the Chain. Dos nomeados na categoria falta-me ler Navigational Entanglements (que já cá está na estante) e The Brides of High Hill (quinto volume da série, pelo que ainda vou demorar a lá chegar).
