Matthew Hughes é um autor canadiano de ficção científica relativamente conhecido, do qual ainda não tinha oportunidade de ler qualquer livro. Este Template foi adquirido há algum tempo, em edição da PS Publishing, mas decorrendo no mesmo Universo da trilogia Archonate do autor, tinha adiado a leitura. Até agora. Confirmo que pode ser lido isoladamente, tendo descoberto uma leitura que questiona a natureza humana, apresentando e confrontando uma série de sociedades.
Na realidade aqui apresentada, a espécie humana expandiu-se ao longo do Universo, colonizando vários Mundos e criando diferentes sociedades, que se baseiam em valores diferentes, havendo uma sensação (pelo menos neste livro) de limite do desenvolvimento (o que mais criar) que se revela na excentricidade de algumas personagens.
Conn Labro é a personagem principal de Template – um duelista profissional que foi comprado em criança para esse fim, e que se vê agora livre de perseguir outras missões quando um benfeitor lhe deixa uma soma avultada de dinheiro. Mas com essa herança veem também ameaças de morte que o levam a investigar a situação. As pistas levam-no à velha Terra, aceitando para tal fazer-se acompanhar de uma amiga do benfeitor, Jenore, que o poderá guiar nas particularidades da protocolarmente complexa sociedade terrestre.
Para Conn Labro, as interacções sociais seriam simples de perceber. No seu planeta tudo se resume a uma transacção comercial, uma troca de valores limpa, objectiva e directa, onde ambas as partes percebem o valor do que transaccionam. A viagem permite-lhe confrontar a sua experiência de vida fechada, com a forma como outros seres humanos interagem, havendo para cada valor uma espécie de pecado que revela a decadência daquela sociedade.



Na Terra esperam-no surpresas e desilusões. A investigação leva-o a procurar a ajuda da família de Jenore (quando entidades poderosas conseguem restringir-lhe o acesso à herança) e a conhecer o conceito de comunidade e família, percebendo existirem outras realidades para além daquela a que está habituado. Conn Labro começa um percurso de auto descoberta, que o levará a tentar descobrir a verdade sobre si próprio, colocando este objectivo acima de um bem material, o que será inédito na sua abordagem perante a vida, anteriormente simples.
Apesar de desenvolver a personagem principal e de nos apresentar os seus conflitos perante outros sistemas de valor, a narrativa nunca se aproxima excessivamente, mantendo uma abordagem fria e relativamente distante. Não é uma escrita envolvente em que criamos empatia para com as personagens, mas um exercício de premissas, interessante e desafiante que cativa mais intelectualmente do que emocionalmente.
O percurso que irá fazer leva-o a conhecer outras culturas em que o valor central vai diferindo, por vezes a honra, a estética, o lucro ou a pertença. A cada valor opõe-se um pecado. Esta desconstrução simplista das actuais sociedades humanas permite desenvolver uma crítica social e cultural com uma abordagem cínica, sendo que se apresentam episódios, levados ao extremo, que permitem provar a forma como cada sociedade aqui descrita reage a interacções – algumas banais, outras crimes.
Apesar de decorrer no mesmo Universo ficcional que uma trilogia do mesmo autor, Template pode ser lido isoladamente. Apresenta uma história peculiar, onde o autor usa as várias sociedades para explorar e confrontar diferentes vertentes das interacções humanas, mostrando como, em cada filosofia de vida, se podem desenvolver extremos peculiares.
