
A memory called empire já tinha sido uma leitura peculiar. A história usa um conceito tecnológico que já tinha visto explorado noutras narrativas (um implante cerebral que permite aceder a memórias e personalidade de outra pessoa falecida) e ainda que tenha sido interessante, achei uma boa leitura mas não excepcional. Este Rose / House é ainda mais estranho, explorando um conceito num espaço mais reduzido, e trabalhando pouco a empatia para com as personagens que envolve.
Rose / House começa por nos apresentar uma casa no meio do deserto. Uma casa que possui duas particularidades – por um lado, o seu formato, uma rosa, por outro o de possuir uma vertente digital, uma IA que lhe confere contornos de assombração. A casa, construída por um renomeado arquitecto, torna-se fascínio para vários humanos que, obcecados com o conceito, aspiram a reproduzir em outras localizações.
Mas o que justifica a história é um telefonema, realizado pela própria IA, para relatar a existência de um cadáver no seu interior, à esquadra da polícia. Neste seguimento, uma detective sente-se na obrigação de investigar o caso, contactando a única pessoa autorizada a entrar na casa, e convencendo a IA de que não é propriamente um ser humano, antes uma extensão da esquadra de polícia. A história vai ganhando contornos progressivamente mais sombrios e arrepiantes com o desenvolvimento.



A casa é vista como uma entidade fantasmagórica. A componente IA que interage com os seres humanos é vista com desconfiança por quem tem de interagir com ela, ainda que com fascínio por um grupo de fãs, que parece doentio na sua obsessão. Mas a IA não é a única assombração. No meio da casa encontram-se os restos mortais do seu criador, convertidos em diamante. E agora, também, um cadáver.
A IA, apesar de lógica, não apresenta uma interacção linear. Deixa-se enganar propositadamente, esconde factos, influencia num determinado sentido e vai deixando pistas para o que aconteceu nas suas interacções. Mas a IA, ela própria, representa a tentativa de preservar a mente de alguém num sistema. O resultado é incómodo – principalmente para a única pessoa autorizada a entrar na casa, uma ex-estudante do arquitecto que se aprisionada pela possibilidade de explorar anualmente os projectos não concretizados.
A narrativa é curiosa, simultaneamente estranha e distante, oscilando entre investigação policial e ficção científica, centrando-se na casa e no cadáver, ao mesmo tempo que vai deixando detalhes sobre uma realidade futurista que é, ao mesmo tempo, conhecida e diferente. Por um lado, os detectives parecem mundanos, semelhantes a tantos outros de histórias policiais. Por outro, percebemos que, neste futuro, onde a tecnologia está mais avançado, encontramos uma esquadra de meios reduzidos que parece não ter a autoridade que costumamos reconhecer, e agentes de um poder corporativo cuja identidade é desconhecida até para os destectives.
Rose / House é uma pequena história de ilusão em mais do que uma vertente. A casa vai-se revelando uma fachada, uma identidade artificial assombrada e assombradora, que, ela também, ilude e engana os que a visitam. Já as personagens que vão aparecendo, interessadas na história da casa e no que lá se passa, também se revelam ilusões, enganadoras nas suas intenções.