Eis mais um álbum de Lucky Luke que só recentemente tive a oportunidade de ler. Lançado em 2020, é um dos álbums narrados por Jul, após Morris. É um álbum peculiar pela forma como integra referências históricas e refere algo que é raro ver nestas séries de Western – um foco nos afro americanos que permanecem nos estados do Sul, após a Guerra Civil.
A história começa por nos apresentar Lucky, descansando numa pacata cidade. Desta vez quem está encarregue de levar os Dalton à prisão é Bass Reeves, uma referência ao primeiro Marshall negro. Mas Lucky não terá muitas horas de lazer, chegando correspondência que indica que será o herdeiro de uma quinta de algodão nos estados do Sul.



O que encontra é um pouco diferente do ambiente a que estamos habituados neste tipo de livros. Os afroamericanos são, supostamente, homens livros, mas não só são caçados e mortos quase que à vontade, como não podem ter terras. A guerra foi perdida, os escravos são libertos, mas de alguma forma a sociedade da região continua a perpetuar os mesmos preconceitos e a mesma ordem social, vendo os afroamericanos como inferiores.
Pelo meio, vemos alusão a algumas figuras ficcionais, como Tom Sawyer e Huckleberry Finn ou E tudo o vento levou, e apesar do tema mais pesado, a narrativa apresenta alguns detalhes mais cómicos e ligeiros que tornam a narrativa mais fluída do que seria esperado, mas ainda assim não tão ligeira quanto outros álbuns. Ainda que a apresentação de figuras históricas não seja inédita nos álbuns de Lucky Luke, estas alusões neste álbum, a par com a fuga dos irmãos Dalton e alguns episódios mais secundários, tornam a narrativa menos focada e mais dispersa.



Nesta aventura, Lucky Luke terá de enfrentar não só o preconceito, mas organizações como o KKK, para conseguir distribuir a propriedade que herdou por aqueles que nela trabalham. O resultado é um pouco mais mirabolante e um pouco menos linear do que é usual, mas ainda assim, adorei o álbum pelas referências e por apresentar uma história com outro nível de preocupações.
