A ficção especulativa tem nitidamente ondas de tendências. Já houve tempos em que foram os vampiros românticos, mas uma das tendências actuais é o Dark Academy, onde este livro pode ser enquadrado. A autora tem lançado várias histórias em diversas revistas, e os seus (poucos) livros parecem ser envoltos numa aura de comicidade leve. Startup hell é um dos seus futuros lançamentos onde promete explorar o mundo corporativo numa realidade fantástica com demónios.

Este The Grimoire Grammar School explora antes o mundo competitivo dos pais de crianças em colégios, onde (principalmente as mães) tecem planos maquiavélicos para garantirem que os seus rebentos prosperam. A história centra-se em Vivian, a mãe de uma criança que foi mordida por um lobisomem durante umas férias em família. A partir daí, a criança passa a ser, ela também, um lobisomem. Não tendo nascido com a condição, a criança tem dificuldades em controlar as suas transformações e a sua brutalidade, fazendo com que a família se mude para uma cidade de criaturas fantásticas, onde poderá ter uma vivência mais enquadrada e “normal”.

A chegada não é suave. Não é só a criança que tem de se habituar à sua nova realidade, mas Vivian afasta-se de uma carreira de sucesso no mundo corporativo para se tornar mãe a tempo inteiro. Tendo sido educada para agradar, sobretudo os que se consideram mais importantes, Vivian tenta dar-se com duas mães que possuem planos muito próprios para a sua nova “amizade”. Em paralelo, uma série de eventos perturbadores fazem-se sentir na escola, fazendo com que a nova criança lobisomem seja apontada como uma potencial causa.

A história centra-se bastante nas inseguranças de Vivian enquanto mulher imperfeita que está, também, a adaptar-se à nova realidade – não só a deixar de ter uma ocupação profissional, mas como ser humano sem poderes sobrenaturais que tenta encaixar-se num meio impossível, escolhendo uma comunidade elitista de mães que usa as inseguranças e a vontade de agradar para a sabotarem. A narrativa apresenta também alguns contornos da política escolar. Os grupos de pais com as intermináveis conversas de Whatsapp, os sub-grupos que não hesitam em dizer mal uns dos outros.

Paralelamente, o relacionamento do casal vai-se degradando. Vivian tenta transparecer perfeição e controlo, mas não comunica as suas dificuldades e frustrações, desenvolvendo comportamentos que são incompreensíveis para o marido, Daniel. Pouco habituados à nova realidade e incapazes de partilhar as respectivas inseguranças, o casal entra numa sucessão de episódios onde se denota progressivamente a degradação da comunicação e o consequente afastamento.

Apesar de alguns momentos de boa disposição proporcionados pelas inseguranças e pela combinação de elementos de azar (onde as situações podem ficar sempre mais embaraçosas), o clima vai ficando cada vez mais negativo, focando-se em Vivian que se encontra num beco psicológico, sem conseguir ver ou desenvolver soluções para as várias situações. Este funil psicológico torna a narrativa um pouco cansativo a meio.

Em termos de contexto, a história quase poderia decorrer sem uma componente mágica. Fala de adaptação de uma família a uma nova cidade, onde desconhecem os laços familiares e políticas das famílias influentes. A magia (e o sobrenatural) conferem um enquadramento diferente, desconhecido pelos leitores, o que poderá ajudar a criar maior simpatia para com a situação.

Em suma, The Grimoire Grammar School é uma leitura com bons momentos, mas que consegue chegar a ser cansativa, com momentos mais deprimentes pelo funil psicológico. A componente mágica não traz grande novidade, para além do uso da profecia e do escolhido de forma pouco usual. Ultrapassando os momentos mais negativos é uma leitura ligeira que consegue agradar, ainda que nunca se torne extraordinária.