Considerando que a maioria das séries Mangá se estende por um sem fim de volumes, não deixa de ser refrescante que Astra se remete para cinco grossos volumes. A série parece não ter deixado a crítica inerte, com várias nomeações, prémios e até uma adaptação para Anime. Na minha perspectiva, a série começou de forma interessante, mas com uma aura adolescentes, apresentando o amadurecimento das personagens e da narrativa, e tornando-se, principalmente nos últimos dois volumes, numa narrativa forte e inteligente.
A história começa por nos apresentar um grupo de jovens adultos que, num futuro não muito longínquo, devem ultrapassar uma prova de sobrevivência. No entanto, poucos momentos após se apresentarem, a expedição será afectada por um fenômeno para os atira para os teletransporta para o meio do espaço, a vários anos luz de distância do destino. O grupo vai agir rapidamente e terá de combinar os seus talentos para conseguir sobreviver. Encontrando uma nave sem telecomunicações, mas minimamente funcional, juntam-se tecem um plano para voltar a casa, saltitando de planeta em planeta e recolhendo alimentos e água em cada um.



Astra começa por recordar uma espécie de Senhor das Moscas mais maduro, com um grupo de jovens perdido no meio do nada. No entanto, dada a maior idade das personagens, e dada a preparação científica e emocional de cada um, rapidamente as interacções vão assumindo contornos mais cooperativos e positivos. Existem, claro, os resistentes, que irão demorar a incluir-se no grupo, seja por razões pessoais ou familiares.
Para além das óbvias dificuldades que a situação acarreta, o grupo vai-se deparar com um sabotador incógnito. O teletransporte não terá decorrido por acaso, as comunicações da nave foram sabotadas e vão decorrendo acidentes que impedem que o grupo avance com a velocidade desejada. Ainda assim, percebemos, a meio que o sabotador terá escolhido temporariamente cooperar com a maioria, permanecendo escondido até ao final, numa grande revelação (que resulta, claro, de um plano de grupo).



A série começa por apresentar um tom aventureiro, onde se sucedem os episódios de aventura em cada planeta. A exploração por alimentos e água trará dissabores, onde as interacções com a fauna e a flora proporcionarão perigos vários. Ainda assim, o grupo avança, havendo um destino claro para o fecho das suas aventuras, que culmina, claro, com a chegada ao planeta de origem – neste elemento, Astra não se alonga como outras séries de ficção científica, apresentando uma estrutura fechada que vai permitir que, em cinco volumes, todos os mistérios sejam descobertos.
Para além das dificuldades no percurso de volta a casa, a história vai-se centrando nas várias personagens, na sua história de vida, e nas relações que existem, e se vão estabelecendo entre eles. Existe um motivo para que todos tenham sido incluídos naquele grupo, e os focos diversos ao longo da série permitem desvendar os detalhes de cada personagem e demonstrar os motivos para as várias personalidades.



Apesar de existir uma aura mais adolescente no início, a narrativa vai proporcionando situações que levam ao crescimento emocional das personagens, demonstrando-se esta maior maturidade nas interacções que se sucedem e nas decisões que vão tomando. A série torna-se progressivamente menos naive, com uma exploração diferente das emoções e uma expressão mais complexa dos pensamentos e raciocínios.
Ao longo da narrativa, demonstram-se capacidades científicas futuristas, com clonagem e teletransporte, aproveitando-se estas referências para se falar de liberdade e protecção das populações, dos impactos da tecnologia na sociedade, bem como na manipulação para refazer o passado através dos meios digitais. Estes temas são abordados sem grande profundidade, ainda que tenham um impacto relevante na narrativa e na explicação da situação em que as personagens se encontram. A narrativa não chega a apresentar-se como distópica ainda que existam elementos na sociedade que podem indicar contornos de um regime mais autoritário e condescendente.



Neste seguimento, explora-se também a genética Vs o desenvolvimento de personalidade com a experiência e vivência, opondo características herdadas e adquiridas. Existirão algumas conversas sobre a ética que a clonagem envolve, bem como conversas sobre o significado de individualidade, expectativas familiares e laços tóxicos.
A série fecha de modo bastante satisfatório, resolvendo as questões das várias personagens, mas também explicando alguns factos que, inicialmente, pareciam coincidências demasiado inocentes em termos narrativos. Neste sentido, a série conseguiu atar as pontas de forma lógica, mas não descurou as personagens, desenvolvendo-as, e conferindo-lhes propósito e voz.



