Esqueçam qualquer semelhança com o termo vampiro, Vamiré é uma obra com 100 anos, escrita sob pseudónimo, por dois irmãos, Joseph Henri Honoré Boex e Séraphin Justin François Boex,  sobre um homem das cavernas que, inquieto, decide partir sozinho e explorar novos territórios. Também sob o nome de J. H. Rosny terão escrito A Guerra do Fogo, mais tarde adaptado para cinema.

Vamiré é o nome da personagem principal, um ágil e jovem caçador que durante um passeio se revolve a partir em viagem de descoberta. Ao longo da viagem vai descobrindo outros hominídeos, seres bípedes menos favorecidos evolutivamente, que vivem nas árvores ou se alimentam de vermes. Não faltam as feras carnívoras como o leão ou as hienas, nem os confrontos violentos entre mamutes e ursos.

Forte e desembaraçado, Vamiré revela-se também um homem honrado e respeitador que, apesar de ser o guerreiro mais poderoso demonstra dó e piedade para com espécies de hominídeos menos desenvolvidas . Vamiré é o herói, recto e corajoso, mostrando-se simultaneamente rude e civilizado. E foi esta característica, a visão demasiado romanceada, que me fez distanciar da obra.

Caracterizando os hominídeos dos ramos menos favorecidos evolutivamente como tristes e melancólicos, servis como plebeus, por se reconhecerem como os menos aptos é, no mínimo, ridículo. Conferir aos animais constantemente, características de nobreza, rectidão e justiça é, também, cansativo.

Tendo lido outras obras de épocas anteriores que, embora cunhadas pela época, conseguiram envelhecer bem, não caindo no ridículo, considero que Vamiré não se encontra neste grupo de obras intemporais.  Ainda que se compreenda que a perspectiva de há 100 anos se possa distanciar bastante da actual, a forma demasiado pura e honrada como se descreve a época é uma visão inocente. Talvez provocada pela maior ruptura com a natureza nas cidades a obra desgasta a premissa da natureza imaculada e honesta. O único ponto positivo será decerto a escrita.