Apesar de escondidos nestas prateleiras mais pequenas, nem por isso são de menor qualidade. Esqueçam o aspecto romântico da capa de O Jardim de Infância – a rosa não simboliza um típico romance harlequin, apesar de se enquadrar na história como um símbolo bastante marcante. Esta é uma das melhoras histórias distópicas que já li. Ainda que não tenha simpatizado com a personagem principal, o mundo que Geoff Ryman retrata é um pesadelo autocrático de humanos standardizados, consequência de um grande avanço científico que terá livrado a humanidade do cancro, mas que terá, também diminuído bastante a esperança média de vida. Do mesmo autor, em português, podem encontrar AR e O Cavaleiro que trazia a vida.
Publicado há uns anos e praticamente esquecido, Um Pinguim Na Garagem é um dos poucos livros de ficção científica portuguesa, recentes. Mais fantástico que ficção científica, Reflexõs do Diabo, de João Cerqueira, apresenta as desculpas do Diabo, acusado de todos os actos horríveis da humanidade – uma dissertação irónica numa edição bastante ilustrada.
Negro e cativante, The Etched City relata um mundo onde a sociedade colapsou. Nomeado para vários prémios fantásticos, pode ser enquadrado no género New Weird. Também nomeado, mas vencedor, Throne of Bones centra-se numa criatura fantástica pouco conhecida em Portugal – o Ghoul. A única referência, indirecta, numa obra portuguesa que conheço está num conto de Telmo Marçal. Criatura da noite que habita cemitérios e come humanos, é figura central dos contos de Brian McNaugthon, onde descreve uma sociedade macabra e violenta.
Por sua vez, City of Saints and Madmen, de Jeff Vandermeer apresenta-nos a cidade de Ambergris em vários contos fantásticos, onde se destaca a influência dos fungos (sejam cogumelos ou esporos). De destacar que esta edição tem um conto extra, na própria capa. Finalmente, não podia faltar a referência a River of Gods de Ian McDonald, uma obra brutal que cruza várias histórias num futuro pouco distante, numa cultura bastante diferente da ocidental. Destacam-se as várias personagens que apresentam pontos de vista diferentes numa sociedade marcada por diferenças abismais de riqueza, e onde a tecnologia impera.
Apesar de estarem apenas fotografados nas prateleiras, destacaria ainda os livros de Sergei Lukyanenko. A série fantástica não é uma obra prima, mas uma divertida luta entre duas fracções de seres humanos com poderes fantásticos que se denominam The Dark, e The Light. Cenas de acção mirabolantes e grandes batalhas decorrem principalmente na Rússia, centradas num homem prático que cresceu como um vulgar humano.


