
A personagem criada por Skakespeare em torno da verdadeira figura história Hamlet ter-se-á afastado bastante da realidade e quase apagado qualquer traço do que terá realmente ocorrido.
Partindo do conhecimento que se tem do código moral viquingue, James Branch Cabell construiu uma sátira à conhecida peça, apresentando uma pequena reviravolta – o verdadeiro pai afinal é o tio, que por força maior se viu obrigado a matar o irmão acabando por casar com a viúva de quem já era, há muito, amante.
Assim se explica que o homem que julga tio, apesar de saber das pretensões de Hamlet em assassiná-lo, não se tenha precavido devidamente – se por um lado não deseja hostilizar a esposa, por outro, trata-se do seu próprio filho. Não que Hamlet alguma vez venha a saber de tal parentesco.
Fazendo-se passar por alienado, um louco sem capacidade de raciocínio, Hamlet é na verdade um adolescente que cresceu com a ideia de vingança, gabarola, a quem uma mulher poderá facilmente dar a volta. Mais astuto do que o creem, mas menos do que ele se crê a si próprio, envereda num claro caminho para a desgraça.
Carregado de assassinatos legais, mortes sangrentas em batalha, romances incestuosos, Hamlet tinha um tio é uma sátira engraçada que se torna, no final, cansativa pelas sucessivas reviravoltas. Apresentando uma versão menos filosófica e mais centrada nos costumes da época, consegue ter momentos engraçados que roçam as histórias de cavaleiros na Idade Média.