Desde o primeiro volume desta série que nos habituámos a uma elevada qualidade gráfica – qualidade esta que se tem mantido e que nos remete para um mundo fantástico onde deuses antigos moldaram a existência de uma série de raças inteligentes, uma delas denominada por Arcânicos, seres humanóides com características mais ou menos evidentes de outros animais, que são perseguidos pelos humanos pelos seus poderes mágicos.

Maika é uma arcánica, mas uma arcánica pouco usual. Unida a um deus antigo, é lentamente consumida quando usa os poderes do deus, um monstro esfomeado que então ocupa o seu corpo e devora todos os que apanhar para repor energia. Para além do monstro que a devora, Maika descende de uma linhagem peculiar de quem pouco se sabe inicialmente, mas sobre a qual se vão descobrindo detalhes inquietantes ao longo da história.

Após a exploração de uma ilha carregada de más surpresas e poderes obscuros, Maika e os amigos têm agora de fugir de quem os pretende prender e usar – mas conseguem exílio numa cidade que reserva, também, alguns segredos poderosos. Enquanto Maika é chamada a ajudar na manutenção do escudo da cidade, uma das suas pequenas amigas descobre refugiados que são como ela e decide, também ela, ajudar – mas é demasiado inocente e acaba por cair em enredos que não compreende totalmente.

Se os volumes anteriores apresentam a fuga das personagens principais por terra e mar, evitando confrontos, neste volume tal torna-se inevitável, resultando em lutas violentas e esmagadoras. Os deuses mantém parte dos seus grandes poderes e soltam-nos sem dó nem piedade por aqueles que podem atingir.

É, também neste volume, que descobrimos que algumas das personagens têm uma agenda muito própria, como agentes de diferentes facções com interesses distintos. Estas personagens reportam a poderes diferentes mas terão de escolher entre a amizade e a sua verdadeira identidade – se algumas o fazem abertamente, com jogos duplos e conversas subtis convidando à desconfiança, outras revelam-se de forma surpreendente.

Até este volume a história tem vindo a ganhar tensão – a maioria dos diálogos são indirectos e subtis, mostrando existirem vontades obscuras e pensamentos não revelados. Ainda que algumas das interacções assim se mantenham (deixando nas entrelinhas ameaças, consequências ou interesses) alguma desta tensão é descarregada em grandes episódios de luta divina.

Monstress continua a ser uma série visualmente arrebatadora, distinguindo-se pelos elementos asiáticos que conferem, às personagens, algumas características de Anime. Os deuses são verdadeiramente alienígenas e incompreensíveis, os poderes são simultaneamente fantásticos e horrorosos e a inocência convive com o horror da guerra e da morte por racismo.

Se, no primeiro volume, a história permitia tecer paralelismos com perseguição de humanos pela sua cor ou origem (ao apresentar séries sapientes e sensíveis que são desconsideradas como se fossem animais), neste volume toca-se levemente no tema dos refugiados.

A série tem sido publicada em Portugal pela Saída de Emergência e este terceiro volume encontra-se agendado para dia 08 de Fevereiro.