Alguns anitos após o primeiro volume, eis que chega o segundo! De história independente, As Noivas Virgens (o nome do segundo volume) traz-nos uma história de leitura independente que nos leva a uma montanha isolada do mundo. Nesta montanha um grupo de jovens raparigas é criado como um rebanho, com o intuito de se casarem com entidades divinas.

A premissa parece desagradável, mas a realidade é muito pior. Por um lado, o resultado desta união é horrendo, mas protegido por dois grupos de mulheres que se julgam em missão divina – um grupo são as caçadores e protectoras dos monstros, o outro grupo é de mulheres mais velhas que indotrinam as jovens raparigas e as preparam para o seu destino.

Em ambos os grupos encontramos um fanatismo cego, envolto numa grande dose de maldade. O intenso fervor religioso leva a que atrocidades sejam cometidas em nome de algo que parece, friamente, muito pouco divino. As jovens são mantidas sob rédea curta, espancadas e julgadas, até ao dia em que sangram e se tornam mulheres.

É nesta realidade que uma jovem se começa a questionar sobre o realmente acontece noutro local, não descansado enquanto não percebe a origem dos gritos da mais recente noiva. O que encontra é um cenário de horror, tanto pelo que acontece às noivas, como ao descobrir o fruto destas uniões.

Este segundo volume de Os Malditos revela uma história pesada que nos leva às primeiras tribos humanas, segundo o Antigo Testamento, colocando em perspectiva as entidades associadas com o bem e com o mal. Afinal, quem escraviza as jovens são mulheres que acreditam estar a realizar trabalho divino – uma interpretação obscura e contaminada pela obsessão religiosa que justifica, desde os primeiros tempos, a violência, bem como outros actos indescritíveis.

Por outro lado, as criaturas que são caracterizadas normalmente como maléficas, revelam-se mais interessantes e iluminadas, e apesar de toda a perversidade que parecem conter, são mais sagazes e participam de forma positiva no afastamento destes modos cegos.

Esta obsessão leva à lavagem cerebral, e não é assim de estranhar que algumas das jovens, mesmo quando confrontas com a realidade, se rejeitem a vê-la – que sentido terá então a sua existência e o seu sacrifício se a premissa em que cresceram não for verdade? A realidade implica acreditar na própria banalidade e retirar o objectivo divino à própria existência.

A acompanhar estes acontecimentos duros encontramos os desenhos detalhados e realistas que não nos poupam à carnificina. Na montanha encontramos um cenário verdejante, mas também as grutas carregadas de monstros. Fora da montanha somos apresentados a um mundo de caos e guerra, cadáveres espalhados e tribos patriarcais onde prevalece a força e a violência.

A história pretende ter uma aura realista, e o desenho contribui para estabelecer esse sentimento, ao demonstrar cenários credíveis e pormenorizados, envoltos numa aura sombria e primitiva – os episódios que decorrem dentro de grutas, os esqueletos espalhados no solo na área fora da montanha, as expressões brutas, violentas e cruas.

Para além disso, há a caracterização de personagens. Em termos narrativos, será um dos elementos que me deixou sentimentos dúbios. Isto porque, para além da personagem principal e alguns detalhes nas restantes, a maioria das personagens são estereotipadas e indiferenciadas. É algo que faz sentido, principalmente na percepção dos dois grandes grupos de personagens (guerreiras e mulheres mais velhas que controlam as futuras noivas) mas que julgo ser demasiado simplista na narrativa.

Tal como o primeiro volume, este segundo apresenta uma história bastante crítica aos episódios do Antigo Testamento, expondo a violência e a obsessão religiosas como doentias, corruptas e corrompíveis – uma visão visceral, dura e crua que é bem representada nesta série.