E eis que Álvaro criou um monstro! E em mais que um sentido – tanto em termos de dimensão, como de conteúdo. Este volume apresenta-se bastante mais extenso do que os anteriores ao autor, ultrapassando as 300 páginas. Em termos de conteúdo, Álvaro parte de uma ideia simples para explorar todas as complicações consequentes – e se Jesus vivesse na sociedade de hoje? Ou mais propriamente, voltasse ao planeta Terra? Entre refugiados de guerra e as ideologias xenófobas que se expandem, sendo Jesus do Médio Oriente, qual seria a recepção ao seu retorno? Seria reconhecido, ou ostracizado?
A história começa por nos mostrar um homem numa nave alienígena. Mas os extraterrestres fartaram-se da sua presença e resolvem devolvê-lo à Terra alguns séculos depois do rapto. O mundo a que retorna tem tanto de estranho como de demente, carregado de diferenças sociais, estereótipos, injustiças e contradições.



Num primeiro nível temos a crítica social. Da mesma forma que em casos de terrorismo, a sua denominação muda conforme a cor da pele do perpetuador, também a vontade de ajudar numa guerra depende do quão semelhante aos ocidentais é o povo que está a ser conquistado. Neste caso, os refugiados são traficados e maltratados, escravos sem existência reconhecida.
Claro que o autor aproveita, também, para tecer várias críticas à Igreja Católica e aos seus seguidores – ainda que o Novo Testamento sugira a partilha, a comunhão e a bondade, os mais fervorosos defensores e aqueles que se julgam especiais por irem à Igreja, parecem mais focados na sua suposta superioridade, justificando desse modo actos violentos e discriminatórios. As mensagens são deturpadas para suportar interesses privados e a própria Igreja arrecada riqueza ao invés de a distribuir.



Num plano mais próximo da personagem, a sua existência nesta narrativa é pautada por uma sucessão de episódios mirabolantes, que conferem o primeiro nível de elementos cómicos, mais directos pela apresentação de detalhes rocambolescos. Num outro nível encontramos o humor caustico que joga com os clichés e os estereótipos, desconstruindo preconceitos religiosos e sociais. A ironia está presenta em toda a história, ora de forma mais subtil, ora de forma mais vincada e narrativamente consciente.
Porra… voltei! não é um livro para todos os leitores – para o poderem apreciar têm de estar capazes de receber uma dose bruta de ironia e sarcasmo, de perceber e receber a crítica que se apresenta, mas também de conseguir usufruir da componente rocambolesca. Por tudo isto, volto a repetir, Álvaro criou um monstro.



