De aspecto enigmático ou ligeiramente perturbador, este Psiconautas cruza um aspecto fofinho com uma aura depressiva, observável na capa. Uma combinação curiosa, que auspicia algo bastante peculiar e que cumpriu essa expectativa.

A história vai apresentando vários episódios, centrando-se em diferentes personagens. O enredo é laço e contém elementos fantásticos ou fantasiosos ainda que não seja propriamente de fantasia. Ambas as personagens principais, Dinky e Birdboy são dois jovens que sofrem de problemas mentais, ainda que diferentes.

Dinky cresce num ambiente familiar tóxico, eternamente comparada a uma imagem de perfeição que não existe. Alvo de chantagem familiar por se afastar do caminho religioso, destacada pelas suas imperfeições, Dinky seria uma boa aluna até ao dia em que algo a desviou do caminho da perfeição. Já Birdboy parece ser um mau rapaz, entre a doença mental e o consumo de drogas. O relacionamento parece estabelecer-se quando se apercebem que ambos são diferentes dos que os rodeiam.

Saltitando temporalmente e entre personagens, a narrativa apresenta episódios disconexos do seu relacionamento e afastamento, demonstrando como outros jovens lidam com a estranheza de Dinky ou de Birdboy, contribuindo, consciente, ou inconscientemente, para a doença psicológica. Pelo meio, assistimos a interacções pausadas e introspectivas, algumas mais simbólicas do que narrativamente significativas, demonstrando o impacto social da doença mental.

O resultado é deprimente e irónico. A narrativa oscila entre os momentos de rara criação de empatia ou ligação, com o preconceito perante as questões psicológicas de ambas as personagens ou com as alucinações e derivas mentais. Tal como a narrativa, o desenho é simultaneamente, fofo e perturbador, contendo implícitas informações sobre a doença e a reacção de quem os rodeia – a incompreensão, a tentativa de forçar a uma suposta normalidade, a chacota, o ostracismo.