Este conto de Seanan McGuire abre a antologia organizada por Robert Silverberg e Bryan Thomas Schmidt (nome que desconhecia, apesar de ter sido nomeado para vários prémios no seguimento das mais de vinte antologias organizadas). A antologia reúne histórias de autores mais clássicos e mais recentes, por ordem cronológica. Excepto este Perfection, que encabeça a antologia – e por bons motivos.
A história apresenta uma jovem que, como outras jovens do mesmo estatuto social e idade, será casada com alguém que desconhece. Resta-lhe rezar por melhor sorte que algumas das suas amigas que, aliadas a homens bastante mais velhos, se submetem às suas perversões ou agressões. Quando, finalmente, vê o noivo, novo e rico, pensa ter-se safado de semelhante destino. Mas este não lhe toca durante os primeiros meses – apesar de toda a beleza da jovem, a sua perfeição não é suficiente. Terá de trocar de mãos para que possa ser vista como aceitável.
O conto bebe influências na mitologia greco-romana, com referências óbvias a entidades divinas. A jovem, na sua condição fraca, dependente e submissa, deve aperfeiçoar-se para conseguir o amor do seu par. Mas nada do que parece fazer ou submeter-se parece ser suficiente, levando a uma progressão perigosa, física e psicologicamente.
A história é, assim, fascinante, envolvente e inquietante, terminando com uma resolução mais arrepiante do que o desenvolvimento – um final irónico e inteligente, que contorce todas as expectativas criadas durante a leitura. É, portanto, uma excelente abertura para esta antologia – ainda que contenha algumas notas de aviso e coloque um tom pessimista no tema.
