Depois de uma época de fascínio com os livros de T. Kingfisher, eis que provavelmente lhe vou dar algum descanso. Ainda que aprecie bastante as obras que têm alguns anos, estas publicadas mais recentemente parecem ter algo em falta, como se, apesar de usarem a mesma fórmula, lhes faltasse uma revisão de coerência no final.
No caso desta Illuminations, a história parece seguir a mesma lógica que Minor Mage, centrando-se numa personagem jovem e destinando-se a um público mais jovem. Em Illuminations a história segue Rosa, uma rapariga que pertence a uma das famílias de Iluministas – profissão que consegue fazer imagens com poderes mágicos. Estas imagens podem ser usadas para purificar a água ou para afastar as pragas da colheita.
Rosa, órfã de pais, vive com a avó e os tios. Ainda não desenvolveu os seus poderes de iluminista, desenhando rabanetes sem lhes conseguir impregnar a magia necessária para que façam qualquer coisa. Entediada, ao explorar o sótão resolve abrir uma caixa antiga, libertando, sem o saber duas criaturas – uma mandrágora desenhada que se move e tem como objectivo destruir os restantes desenhos mágicos, e um corvo falante, também desenhado que a vai ajudar na caça à mandrágora.
Tal como noutros livros de T. Kingfisher, a premissa é simples mas engraçada e original, criando interacções diferentes do usual. No caso de Illuminations, ainda que a mandrágora tenha más intenções, os usuais elementos mais sombrios que lhe conferiam alguma autenticidade estão ausentes. A mandrágora é o vilão, e apresenta um mal absoluto e injustificado (apesar da semi explicação que existe a meio).
Este é um dos elementos que se distingue, pela negativa, de outros livros de T. Kingfisher. É que mesmo em narrativas infantis e simplistas da autora, a relação mal / bem não costuma ser tão a preto e branco. O outro elemento menos positivo nesta história é o demasiado centralismo na personagem principal, no sentido em que, ainda que existam vários outros familiares com poderes, é com ela que determinada capacidade se revela primeiro.
Numa perspectiva mais tangencial, a família de Rosa também é peculiar. Vive com a avo e com os tios, mas todos pertencem à mesma linhagem familiar, sem existirem pessoas na família sem os poderes, ou com origem numa outra família de iluministas.
Mas também há coisas boas. Illuminations apresenta um conceito simples mas engraçado que gostaria de ver explorado noutras histórias. A narrativa é fluída e dinâmica, com uma personagem com personalidade. Infelizmente, achei que a narrativa deste volume tinha sido apressada, falhando em dois ou três elementos que outras histórias da autora não costumam falhar. É pena, porque o conjunto tinha um bom potencial.