
Tal como A Wizard’s Guide to Defensive Baking, da mesma autora, Minor Mage é dirigido a um público mais jovem. Trata-se de um livro pequeno, com cerca de 160 páginas, com uma capa simples, mas eficaz. Em termos de história, apesar de simples, não desilude.
A história
Um jovem mago, Olivier, encontra-se na sua vila natal, sem a mãe. Esta, uma mercenário desinibida, terá ido a uma cidade próxima. Esta ausência não teria sido nenhum problema, não fosse coincidir com uma extrema seca na região, que levou alguns populares a insurgirem-se. O poder das multidões pode revelar o pior de todos e foi o que aconteceu, obrigando o jovem mago (praticamente uma criança) a iniciar uma longa viagem para trazer a chuva.
Olivier, um rapaz corajoso, parte assim com alguma comida, acompanhado apenas pelo Tatu, um animal que foi atraído pelas capacidades mágicas do rapaz e que se tornou assim capaz de falar – algo comum nos companheiros dos magos neste mundo. Apesar de bem intencionado, o rapaz possui poucas capacidades mágicas. O seu anterior professor faleceu antes de lhe poder transmitir muito mais, deixando-o apenas com 3 feitiços que pode invocar com algum esforço. Em compensação, Olivier é muito bom com ervas, usando-as no seu papel de pequeno mago junto da população.
Ao longo da viagem, Olivier há-de encontrar vários obstáculos, alguns assustadores, que consegue ultrapassar, ora por mera sorte, ora por alguma sagacidade (sobretudo do Tatu).
Crítica
Tal como noutras histórias da autora, o mundo apresentado é relativamente simples, diferenciando-se do nosso apenas por alguns detalhes distintos. A sociedade é algo medieval (tal como A Wizard’s Guide to Defensive Baking) ainda que neste caso não exista um poder nobre que governe na vila, algumas pessoas possuem poderes mágicos e existem algumas criaturas maléficas, como ghouls (uma espécie de zombie consciente, que se alimenta de carne humana e que gosta de ambientes escuros).
Ainda que Olivier possua alguns poderes mágicos, o que determina que seja o escolhido para ir buscar chuva, os poderes não se tornam o ponto principal da narrativa. Aliás, os poderes de Olivier são tão limitados que o ultrapassar do obstáculos se faz mais por sagacidade e esperteza do que por desenvolvimento de feitiços. Este ponto torna a narrativa mais interessante, demonstrando como a autora limita os recursos a que as personagens têm acesso, como forma de explora outras soluções mais interessantes.
A história é relativamente simples, partindo de um elemento cliché. Olivier vai partir numa demanda e encontrará, claro, quem o ajude no caminho. Infezlimente, também encontrará quem o atrapalhe. As personagens que encontra pelo caminho também possuem algumas particularidades, que a autora usa para caracterizar e para desenvolver a narrativa. Para além das personagens, existem também alguns outros elementos criativos bem colocados que tornam a narrativa distinta e que lhe conferem uma aura de originalidade contida.
Tal como noutros livros da autora, Minor Mage apresenta detalhes com um humor negro muito peculiar. Se em A Wizard’s Guide to Defensive Baking encontrávamos uma senhora que conseguia comandar os esqueletos de cavalos, ou em The Hollow Places tinhamos uma série de criaturas curiosas, aqui Olivier encontra um mago cujo poder quase se resume a construir instrumentos de música com os restos mortais de vítimas de assassinato. Apesar deste detalhe parecer demasiado pesado para um livro juvenil, a autora cruza estes detalhes com o humor que lhe é característico, com o qual balanceia estes detalhes mais pesados.
Mas tal como em A Wizard’s Guide to Defensive Baking a personagem percebe que nem sempre os adultos cumprem o seu papel de protectores, havendo vilões que atacam e matam crianças, por nenhum forte motivo, a não ser a vontade que têm de o fazer. Aliás, este será o ponto que leva a narrativa a ser um pouco menos juvenil, revelando a quebra de confiança que caracteriza o crescimento.
Tal como no outro livro juvenil da autora, Minor Mage é um excelente livro juvenil. Usa alguns elementos cliché, mas não em demasiada, construindo personagens com características próprias e curiosas, usa elementos mágicos, mas também muita lógica, sendo que a magia não serve como escape para qualquer dificuldade. Existem elementos de horror bem colocados, mas doseados que irão permitir tornar a narrativa interessante, cativante, mas também apropriada.
Conclusão
Este é outro daqueles livros que gostava de ver publicados em português para um público mais jovem. Não é condescendente, apresenta uma narrativa interessante e envolvente, com elementos interessantes e originais. É um livro de fantasia, que usa alguns clichés do género, mas que consegue ultrapassá-los e apresentar ideias surpreendentes – tudo envolvida num bem doseado humor que balanceia os detalhes negros.
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