Adaptado para cinema por Roman Polanski em 1976, O Inquilino Quimérico é um daqueles livros que se termina e não se sabe bem o que se leu. O tom é altamente irónico, numa narrativa carregada de dúvidas e incertezas, enquanto tece episódios que são, simultaneamente determinantes e inconsequentes.
A história começa por nos apresentar Trelkovsky, um parisiense, descendente de polacos, que procura um novo apartamento. A sorte parece estar do lado dele quando encontra um apartamento por preço acessível. Mas há um pequeno impedimento – a anterior locatária teve um problema grave e está no hospital. Enquanto estiver viva, há o risco de voltar e de ocupar o apartamento.



Decidido a avaliar a situação, Trelkovsky desloca-se ao hospital encontrando a anterior locatária nos últimos momentos de vida. Mas não está só. Uma amiga desta, encontra-se inconsolável e o parisiense irá acompanhá-la.
A partir daqui a narrativa assume uma direcção cada vez mais surreal. No prédio os barulhos fazem-se sentir, levando com que a vizinhança implique com determinados inquilinos. As consequências são de enlouquecer. Infelizmente para Trelkovsky, ele será um dos visados, mas o seu espírito passivo e submisso não lhe permitem avançar com a reacção necessária para parar a espiral que se lhe apresenta.



Trelkovsky apresenta uma obsessão progressiva pela anterior locatária, acompanhada por um sentimento claustrofóbico referente à vizinhança, uma espécie de sentimento de estar a ser perseguido que um coloca num estado crescente de nervos e consequentemente, no caminho da auto destruição física e psicológica.
A história apresenta esta decadência da personagem, numa narrativa negra, traumatizante, mas também irónica e repugnante. E com isto tudo, é uma leitura fenomenal e desafiante, com traços de surreal que recordam Kafka e detalhes de antecipação que remetem para o horror.