
Eis um livro do qual não me foi fácil falar. Isto porque, sendo visualmente extraordinário, Em Busca do Tintin Perdido é uma narrativa de cariz bem pessoal, revelando o percurso pela banda desenhada do próprio autor. Expressam-se sonhos, perspectivas de vida e planos deitados por terra. Revelam-se esperanças, lutas e decepções. O caminho do autor não foi fácil ou linear e a percepção que me ficou é que o próprio autor andou perdido até encontrar um tom narrativo próprio que lhe permita distinguir-se.
Em Busca do Tintin Perdido, o autor começa por recordar o fascínio na infância que tinha pela banda desenhada. Apesar da perspectiva castradora em relação à banda desenhada que vingava na altura, foi sortudo no acesso aos livros de quadrinhos que o iriam fazer contactar com várias personagens e autores, e na possibilidade de tentar prosseguir uma carreira associada à banda desenhada.



Em vários momentos, tentou vender o seu trabalho a editoras de renome no cenário europeu, mas parece sempre faltar alguma coisa para se estabelecer de forma mais consistente no meio – sendo que esta alguma coisa não é totalmente percebido, gerando um sentimento misto de frustração e arrependimento que transparece na leitura.
Ao longo da sua vida o autor aproxima-se e afasta-se da autoria de banda desenhada, impulsionado pelas circunstâncias ou pela própria nostalgia. Esta história reflecte este caminho, cruzando as memórias com as influências na banda desenhada, enquanto apresenta homenagens ou referências a obras e autores consagrados.



Nesta obra o autor parece expor o percurso de se procurar a si próprio na banda desenhada – tentar estabelecer um cunho pessoal ao mesmo tempo que é influenciado por grandes mestres, encontrar o seu tom narrativo quando poderia talvez emparelhar com outros autores, procurar o elemento distintivo que desbloqueie o caminho da afirmação.
E esta é a razão pela qual demorei tanto tempo a escrever sobre este belíssimo livro. Fiquei com a percepção de ser uma exposição pessoal, um vislumbre de algo íntimo, mas ao mesmo tempo digno que o autor deseja partilhar. Em consequência, diria que esta expressão do que lhe é pessoal resultou muito bem, tanto em termos visuais como narrativos.



Em paralelo à exposição do seu percurso, vislumbramos um fascínio reconhecível pela banda desenhada – a ânsia pelo próprio volume, a admiração pelos desenhos fabulosos de grandes autores, a viagem de leitura que é possível a cada novo livro. Nesta componente, é impossível não sentir uma grande empatia e ligação com o autor, elementos que, sem dúvida, transformam a experiência de leitura durante esta história.
Em Busca do Tintin Perdido é um grande livro – tanto na componente visual como na narrativa, sem esquecer a edição. Para quem gosta de banda desenhada, o volume terá decerto um sabor especial, pela partilha de uma mesma paixão.


