Já conhecia esta autora de On a Sunbeam, um livro de ficção científica que explora o desenvolvimento emocional ao longo da adolescência, mas num cenário pouco típico, que proporciona páginas de visual espectacular. Este Clementine tem, também, sido destacado em várias páginas, sendo composto, pelo menos por três volumes (o segundo volume indica que a história irá continuar).

Clementine apresenta-nos o típico mundo apocalíptico carregado de zombies, o mesmo Universo de The Walking Dead. Estes zombies são tal como em várias outras narrativas, seres humanos contaminados por uma dentada que se transformam em criaturas ambulantes que procuram o próximo humano para morder. A sua eliminação também não se distingue de várias outras narrativas. O que se distingue é a forma de sobreviver a alguns dentadas – se for num membro, o ser humano pode escolher cortar o membro afectado.

Clementine é, para além do título do livro, o nome da personagem principal, uma jovem que prefere viajar sozinha, mas que tem uma perna amputada, possuindo algumas dificuldades na sua locomoção. Ao longo do percurso vai encontrar outros seres humanos, na sua maioria cooperativos e procurando uma aliança, mas Clementine prefere, na maioria dos episódios prosseguir sozinha. Pelo menos até se apaixonar por outra rapariga.

Como personagem principal, esta rapariga é peculiar. Pouco dada a verborreias, desconfiada e sempre esperando o pior, Clementine é tipicamente cínica, dotada de um sentido prático que lhe tem permitido sobreviver, fisica e psicologicamente. Ainda que, ao longo deste volume, a maioria das interacções com outros humanos sejam positivas, as personagens carregam traumas de abusos, chantagens e perdas.

Aparentemente, as críticas mais negativas a este livro comparam a Clementine aqui retratada com a Clementine de The Walking Dead, mas não tendo lido ou visto a série, não posso tecer essas comparações. O que encontro é uma adolescente que cresceu num mundo complicado e que apresenta claros traços na personalidade desse crescimento difícil.

Entre Clementine e as restantes personagens adolescentes, percebemos que a recordação de uma civilização de desvanece. Onde é a Tailândia? Não convivendo com mapas, estes jovens não têm noção da distância, nem de como era a vida antes do apocalipse zombie.

O visual da história apresenta-se a preto e branco, destacando-se portanto das belíssimas páginas de On a Sunbeam. Ao invés, encontramos um mundo decadente e inóspito, cada vez mais hostil à humanidade e onde, a cada momento, se pode encontrar um ou mais zombies. O ambiente não é propriamente de terror, ainda que possua passagens bastante pesadas de confronto com zombies, de perdas emocionais ou de recordação de momentos traumáticos.

Ainda que não tenha achado estes dois volumes excelentes, a história flui facilmente, parecendo destinar-se a um público mais juvenil (ou YA). Os diálogos são simples, com alguns dramas típicos da idade, mas não em demasia. O elemento de maior conflito são mesmos os zombies e o estado da civilização humana.