Passado o ano, chegou a altura de explorar algumas obras que aparecem recorrentemente nalgumas listas de melhores de 2021. Este foi um dos escolhidos, por parecer ser um cruzamento curioso entre ficção científica e desenvolvimento emocional típico da adolescência, com um bom visual. Nomeado para inúmeros prémios (Hugo, Will Eisner, Dragon Award) e premiado com outros, On a Sunbeam está fora da minha habitual zona de leitura.

A história

A história intercala duas linhas diferentes, focadas na mesma personagem, Mia: enquanto adolescente apaixonada, e enquanto adulta com uma profissão. Apesar do tempo que já decorreu, a forma como aquele amor terminou não a deixou fechar o capítulo, fazendo com que tenha uma missão que lhe está associada.

Em termos de enquadramento, percebemos que estamos perante um futuro distante mas indistinto, onde a humanidade já colonizou várias zonas da galáxia. É neste contexto que um grupo passeia pela galáxia, numa peculiar nave (em forma de peixe) concretizando missões. Uma destas missões estará associada à recuperação (e catalogação) de um enorme edifício, construído por uma seita que terá enlouquecido.

Crítica

Apesar do contexto futurista de uma humanidade que explora e coloniza outros planetas e locais, este contexto não é explicado cientificamente, existindo detalhes que são, quase, exotéricos. Ainda assim, são interessantes, e conferem à narrativa uma aura de originalidade e surpresa que me recordam algumas narrativas New Weird – ainda que, aqui, de forma mais subtil, até porque existe um grande foco na acção e nas personagens.

Nesta vertente (acção e personagens) as figuras principais são humanas, com reacções e interacções, levadas por emoções e vontades. Os acontecimentos sucedem-se nesta base, típica à faixa etária das personagens da maior parte da acção. A progressão da história é, desta forma, orgânica e natural.

As personagens são algo complexas. Apesar de a maior parte da narrativa se focar em adolescentes, estes não são absolutamente bons ou maus, podendo ter reacções mais positivas ou negativas consoante os contextos. Existem, claro, antagonistas, e personagens populares, mas não caindo nos clichés das escolas americanas.

Em termos visuais, a maioria das páginas apresentam um jogo a duas cores para criar sombras e alguma textura, afastando-se de tons realistas. Já as personagens apresentam expressão e movimento, por vezes exagerando nas feições para denotar alguns sentimentos (num tom mais ligeiro de anime). On a Sunbeam atinge o seu auge visual quando apresenta paisagens surreais de outros planetas, cruzando cores e imaginação de forma fantástica (mas recorrendo sempre a poucas cores contrastantes).

Conclusão

On a Sunbeam é uma leitura diferente e emocionante. Possui elementos originais, principalmente na criação do cenário que, sem grandes explicações, são apresentados no contexto de forma quase natural (na concretização da boa máxima, “Show, don’t tell“). As mais de 500 páginas sucedem-se num bom ritmo, ainda que não seja propriamente um page turner. Visualmente é fascinante, sobretudo nas paisagens mais alienígenas. A parte de romance ocupa um papel principal na movimentação da história – algo esperável, mas que poderá não ser para todos.

Concluindo, On a Sunbeam foi uma boa leitura, que recomendaria à faixa etária das personagens, mas também, a leitores mais maduros que queiram experimentar algo menos comercial e diferente.