
Mortes violentas, desenlaces brutais, diálogos mirabolantes. Os filmes de Tarantino são variados em temática e, até, em estilo, mas têm elementos em comum entre eles, desde episódios inusitados a personagens épicas, alguns com detalhes que parecem ter saído de filmes de série B, mas que funcionam para os transformar em grandes êxitos – ainda que não sejam, claro, para todos os espectadores. A juntar ao mirabolante, encontramos bandas sonoras memoráveis.
Mas como se gerou um realizador / roteirista com estas características? Bem, neste volume, começa por se mostrar as influências iniciais sobre Tarantino – o padrasto, principalmente, que o levava a filmes sem fim, havendo conversas sobre cinema que levaram Tarantino, enquanto jovem, a saber tudo sobre os filmes. O fascínio pelo cinema leva-o a tentar enveredar neste mundo, objectivo que concretiza com sucesso, ainda que com alguns dissabores pelo caminho.



Quentin por Tarantino não fala apenas de Tarantino enquanto realizador e roteirista, mas também de Tarantino enquanto pessoa, quais os planos que tinha e as desilusões ou sucessos que teve, bem como dos relacionamentos que tem com várias pessoas na indústria cinematográfica. Alguns episódios parecem surreais, saídos de uma vontade de querer fazer que o levaram a ter encontros incríveis com resultados inesperados.
Mas não só. Tarantino explica as piadas. Como usa referências comuns para criar algo novo – cópias ou homenagens? Algumas referências são mais perceptíveis do que outras, dependendo das gerações e das influências de cada um. Mas no caso de Tarantino, tudo parece propositado e com um objectivo consciente de recriar e impactar.



Tarantino explica, também, como cria personagens. Como desenvolve todo um historial associado à personagem que os actores podem ler – ainda que este historial não seja explorado nos filmes, mas ajude na sua caracterização e a criar personagens mais genuínas e realistas. Para além das personagens, há que escolher os actores certos. Ou convencer os actores certos.
Estes relatos não são frios e distantes. Tarantino expressa opiniões e perspectivas, como transformou alguns actores em estrelas. Por vezes, nesta explicação ou expressão, elogia-se. Ao extremo. Mas, como o próprio diz, serão gabarolices se forem verdades? Bem, de alguma forma fomos treinados para achar mal que alguém se auto-elogie, mas bolas, a verdade é que a obra está lá para quem a quiser ver, e que estes momentos parecem ser coerentes com as impressões que ele fornece publicamente.



Quentin por Tarantino é um género de biografia. Mas enquanto algumas biografias apresentam apenas factos, esta apresenta pensamentos e sentimentos, bem como relacionamentos e interacções. Não é um relato biográfico completo, mas, de alguma forma, percebe-se melhor o realizador nesta combinação pouco linear de aspectos.
Em termos visuais, o livro vai oscilando entre banda desenhada e texto, apresentando cartazes de filmes, personagens e grandes planos. Há vários estilos visuais e vários formatos, o que resulta em páginas interessantes que combinam bem com o mundo ficcional de Tarantino.



É um livro brutal que reflecte vários aspectos do homem que é Tarantino e da sua obra, mas também expressa como entrou na produção de filmes. Por vezes, os seus princípios, que são uma combinação curiosa com a sua obra. Aconselha-se não só aos que gostam de Tarantino, mas também a todos os que gostam de cinema.