Este livro tem aparecido em diversas críticas internacionais bastante positivas, pelo que, quando apareceu em português pela TOPSELLER, acrescentei-o rapidamente às futuras leituras. A premissa parece leve e engraçada, com um livro que permite aceder a qualquer porta que exista, que tenha existido ou que venha a existir. O resultado é menos espectacular do que o prometido, mas é uma leitura dinâmica, com vários momentos de acção.

A história centra-se em Cassie, uma jovem que trabalha numa livraria. Num dos dias em que trabalha sozinha um velho cliente morre-lhe na livraria, deixando um estranho livro denominado o livro das portas. Com uma amiga, descobrem, sem querer, o potencial do objecto, apercebendo-se que, com ele, pode abrir qualquer porta do espaço ou do tempo, e, dessa forma, viajar livremente.

Mas o que parece o início de uma aventura engraçada e fantástica, transforma-se rapidamente, quando se percebem vigiadas e perseguidas por conta do livro. O livro das portas não será o único com poderes, existindo outros que são capazes de proporcionar as mais intenções emoções, ou transformar o mundo que nos rodeia. Em busca destes livros existem várias entidades, algumas por puro coleccionismo, outras com intenções maléficas.

O Livro das Portas tem tantos pontos positivos quanto negativos. Trata-se do primeiro livro do autor e, como tal, é um bom primeiro livro. Mas existem vários aspectos que deve melhorar na sua escrita. Em termos de conceito, este é engraçado e misterioso, permitindo criar tensão e emoção, usando um ponto fraco da maioria dos leitores – livros, bibliotecas e livrarias. Os objectos mágicos são livros de proveniência misteriosa, a personagem principal não só trabalha numa livraria como é uma leitora introvertida, e existe uma biblioteca de livros mágicos por descobrir.

Ultrapassando esta parte, o livro apresenta personagens caricatas, investindo algum tempo (por vezes excessivo) em conversas triviais, como forma de nos transmitir as suas preocupações mundanas e criar empatia. Esta estratégia não funciona totalmente, até porque não se repercute na forma como as personagens agem durante a história. Adicionalmente, ainda que decorram vários anos, não se percepciona uma evolução nas personagens.

Entre caçadores e coleccionadores de livros mágicos, Cassie vê-se obrigada a fugir, com a ajuda do bibliotecário. O livro das portas é um exemplar valioso e, como tal, há quem não meça meios para o adquirir, optando por matar, torturar ou raptar quem se atravesse no seu caminho. Estes episódios de maior acção ou violência criam a tensão na história, ainda que estejam mal balanceados com os episódios mais pausados ou distribuídos.

A narrativa decorre, centrada sempre na perspectiva de Cassie, levando a que existam demasiadas coincidências em torno das mesmas personagens. Existem algumas boas e outras más, ainda que as más o sejam de forma demasiado absoluta. Por último, diria que o aspecto que mais me decepcionou, foi mesmo a explicação para a origem dos livros – mas sobre esta não me alongo para não vos estragar a leitura.

Este é um daqueles livros dos quais queria gostar mais do que gostei. A premissa é engraçada (livros com poderes) e a forma que o autor arranjou para adicionar episódios de acção poderia funcionar melhor (a existência que quem queira coleccionar todos os poderes disponíveis). Não é uma leitura má, mas também não é excelente e julgo não estar à altura do hype que o rodeia. A narrativa flui bem, apesar do desbalanceamento de momentos de acção, e tem elementos cativantes. Se tivesse de dar estrelas, diria umas 3.5 estrelas.