Mana Neyestani é o autor de Metamorfose Iraniana, um dos livros que mais apreciei na última colecção de Novela Gráfica lançada pela Levoir em parceria com o jornal Público. Neste caso, a Levoir publica um volume maior do mesmo autor, com mais de 200 páginas, que venceu o prémio do Público France Télévisions de 2023 e que fez parte da selecção oficial de Angoulême 2024. É uma leitura forte, que apesar dos momentos caricatos, é trágica.
Os Pássaros de Papel leva-nos às montanhas do Curdistão, onde, a população iraniana, remetida para a pobreza, opta pelo contrabando como escapatória às suas condições. Tal significa atravessar as montanhas com mercadoria, ultrapassar duras tempestades e fugir das brigadas que atiram a matar.



A história centra-se num grupo de homens que prossegue pela montanha, cada um com a sua própria motivação para o contrabando. Um a um, vamos conhecendo as suas motivações e percebendo que, quase todos, para além de sustento, vêm no dinheiro do contrabando uma forma de fugir à sua condição e de comprar um futuro.
Apesar das circunstâncias que obrigam o grupo a tomar um perigoso caminho pela montanha, a narrativa possui vários detalhes cómicos, começando pelas várias personagens que compõem o grupo. Temos, portanto, um anão que mal aguenta com a sua carga, ou um velhote com uma prótese como perna que se desloca nos piores momentos.



Em paralelo, para além de se focar no grupo de homens que tenta fazer passar o contrabando pela montanha, a história apresenta, também, a jovem filha de um destes homens, que estará apaixonada por um homem que não é o prometido. A jovem sonha em deixar o país com a sua paixão, em construir um futuro diferente onde pode ter uma profissão e ser alguém para além de esposa.
Os pássaros de papel é uma história trágica, dura e pesada, apresentando a pobreza e os sacrifícios da população (bem como o agir malicioso das autoridades). Esta tragicidade é aligeirada pelos elementos cómicos (alguns irónicos), o que resulta numa leitura balanceada, cativante e envolvente. Sem dúvida, uma leitura aconselhável.



