
Alguns dos livros de Taniguchi costumam ser muito introspectivos e silenciosos, livros onde a personagem principal, um observador, nos mostra aquilo com que se depara, como O Homem que Passeia. Noutros, como O Diário do Meu Pai, é mais biográfico, falando dos seus familiares. Este é mais especulativo em premissa, fazendo com que um homem de meia idade possa regressar ao passado e reviver os tempos da adolescência.
Hiroshi engana-se no comboio e ao invés de ir em direcção a casa, acaba na sua cidade natal. Vendo que existe algum tempo antes de poder apanhar o retorno, resolve visitar o cemitério onde a mãe está enterrada, questionando-se sobre o pai ausente e sobre alguns acontecimentos na sua adolescência. Estranhamente deixa-se dormir – mas quando acorda percebe que ao invés de estar atrasado para apanhar o comboio, tem 14 anos e está atrasado para voltar a casa, onde reencontra os pais no normal convívio familiar.



A partir daqui, Hiroshi vai reviver a sua adolescência, mas com a maturidade de um adulto. Os estudos são muito mais fáceis, o exercício físico traz-lhe alegria, e a nova postura, mais séria, resulta na atenção da rapariga mais bonita da turma. Ainda assim, Hiroshi torna-se obcecado por prevenir que o pai os abandone, tentando perceber as circunstâncias que levam à sua ausência.
Bairro Distante torna-se numa história de “E se…”. E se pudéssemos reviver o passado com outro conhecimento e maturidade, o que seria diferente? O que seria melhor ou pior? O que depende realmente de nós e das nossas acções?



O homem da cidade moderna que é Hiroshi, vai ter comportamentos diferentes da criança de uma zona mais rural, gostando de apreciar a calma e a beleza da natureza, e tendo alguns hábitos pouco próprios para a idade do seu corpo. O comparativo das duas vidas vai ter influência não só no reviver destes momentos passados, mas na forma como se enfrenta o futuro. Com esta experiência virá um novo entendimento da sua própria vivência.
O resultado é uma leitura formidável. Acompanhamos Hiroshi que sente a vida de estudante como libertadora (menos responsabilidades e maior conhecimento) tornando-se num jovem de sucesso escolar em várias vertentes. Ao mesmo tempo, agoniza com a antecipação de um episódio importante, que irá constituir a sua principal obsessão durante a narrativa. Com esta premissa exploram-se duas épocas e localizações diferentes, com formas de estar distintas.


