De título curioso, este volume foi nomeado para os prémios Goodreads na categoria de Fantasia em 2022. É provável que se tivesse sido lançado mais tarde, tivesse sido nomeado para a categoria Romantasy por conta do cruzamento de fantasia com romance. Tal como o título promete, é um livro bem disposto sobre feiticeiras actuais que, a dada altura apresenta cenas tórridas de romance.
A narrativa centra-se em Mika, uma jovem e órfã feiticeira que cresceu protegida por uma feiticeira mais velha, Primrose, que, dando-lhe todo o conforto possível, descurou a atenção e o carinho. Dada a sua natureza mágica, Primrose rodava com frequência as amas e os tutores, apagando-lhes a memória sobre Mika. Sem laços afectivos a jovem cresce com uma elevada dose de insegurança emocional.
Agora que é adulta, Mika saltita de localização em localização, estabelecendo poucos e fugazes relacionamentos, não vá perceberem o que é. A única constância na sua vida serão os encontros mensais entre feiticeiras que decorrem sempre em locais diferentes, para que não sejam descobertas. Mais recentemente encontra-se desempregada pelo que não resiste a um contacto para ser ama, sendo o ponto chave as suas capacidades mágicas – mas como saberão que as tem?



Fortemente endoutrinada por Primrose sobre os perigos em viver perto de outras feiticeiras (que poderia resultar num descontrolo sobre a magia), Mika surpreende-se por saber que, numa casa magicamente escondida, um grupo de adultos cria três crianças mágicas, pretendendo ajudá-las a crescer e a sobreviver. Claro que se trata de uma casa alegre e feliz, onde, apesar das suas particularidades, as crianças crescem protegidas e saudáveis. Mas existe um prazo para essa felicidade e Mika será a peça chave de um plano para manterem o núcleo familiar.
Um dos problemas que estes romances fantásticos costumam apresentar é o demasiado centralismo numa personagem que, possuindo algumas particularidades que cativam a empatia, se tornam excessivos, homogéneos e desinteressantes. Este elemento foi algo que a autora conseguiu controlar neste livro, apresentando uma personagem principal com suficientes conflitos pessoais para ser interessante, mas suficientes conflitos externos para que a narrativa se centra noutras personagens e noutras interacções.
Nesse sentido, a história flui bem e apresenta bons momentos, resultando numa história aconchegante que não irá agradar a quem procura uma leitura fantástica mais séria e complexa. Não é, de todo, um clássico do género fantástico, até porque em termos de construção de mundo é demasiado simples e com pouca justificação ou consequência. Percebemos que as feiticeiras hibernam se gastarem muito energia, mas a componente das consequências dos feitiços é pouco explorada.



A história começa por apresentar elementos curiosos que poderiam ter sido mais explorados, como a complexidade em se ser uma feiticeira na sociedade moderna (com viagens de carro que se tornam demasiado rápidas, poções e constrangimentos de espaço), mas a passagem para um cenário mais caseiro e fechado faz com que esta componente seja quase deixada de fora.
Em termos de romance, esta componente resulta de um envolvimento forçado e previsível, que encaixa para justificar o final, mas que se desenvolve de forma súbita e sem progressão. Não existe a usual tensão expectável e quase até meio não parece haver romance nenhum, até as personagens decidirem, repentinamente, que afinal estão apaixonadas. A partir daqui existem algumas referências a algum tipo de sentimento, mas com um desenvolvimento pouco natural.
De alguma forma, esta história recordou-me os livros de T. J. Klune, ainda que em execução, envolvimento e progressão tenha ficado aquém. Efectivamente já li piores (achei o recente Fui Morar com um vampiro menos bem conseguido, por exemplo) mas deverá tornar-se numa narrativa esquecível. Para quem procura uma leitura aconchegante com toques de fantástico aconselho primeiro os do Klune, ainda que A Sociedade Muito Secreta de Feiticeiras Invulgares seja uma narrativa fluída que se lê bem.
