Lançado recentemente pela Editorial Asa, este livro possui um aspecto e uma descrição que recorda vários outros livros francobelgas publicados recentemente em que a história assenta num enredo mirabolante e numa personagem destrambelhada. Claro que estou a falar de livros como Tananarive ou Sou o Silêncio, ainda que este Senhor Apothéoz não esteja totalmente ao mesmo nível destes.

O jovem Apothéoz, que empresta o apelido para o título do livro, acredita que o nome de família está amaldiçoado, depois de uma série de infortúnios que se fizeram sentir pelas gerações anteriores. A sua crença é tão vincada que tenta, até, mudar de nome, vivendo a vida adulta desanimado e pouco esperançado.

Esta perspectiva agudiza-se quando o pai faz um mau negócio com o apartamento – um género de acordo em que um vizinho paga uma renda vitalícia até ao momento em que o pai faleça. Claro que o pai, constantemente entre garrafas de vinho, não há-de durar muito e Apothéoz vê-se forçado a encontrar uma estratégia para manter o apartamento – e que melhor local para encontrar uma estratégia do que um café onde se torna amigo de um escritor, que o aconselha a comprar uma arca frigorífica.

A amizade que se estabelece entre os dois faz com que o escritor queira explorar um pouco mais a crença na falta de sorte de Apothéoz, levando-o à terra natal onde deixou uma paixoneta não declarada por uma jovem tocadora de violino – tocadora essa que verá o futuro restringido pelo negócio de família.

Apesar do início promissor e com detalhes desgraçadamente bem humorados, a narrativa enverada por uma série de exageros onde os limites da ficção são explorados, perdendo-se credibilidade narrativa. Estamos constantemente à espera de algo que traga a história por melhor caminho, mas o autor opta pelo excessivo, desbalanceando a história. E foi neste aspecto que o conjunto acabou por agradar menos do que esperava.

O resultado é, portanto, mirabolante, mas de uma forma excessiva que, de alguma forma, não possibilita o mesmo nível de envolvimento que outras narrativas conseguem criar. Apothéoz toma uma série de decisões estranhas, o escritor releva-se mais obscuro e menos carismático do que seria de esperar (decepcionante) e as personagens que vamos conhecendo possuem feitios execráveis ou questionáveis.

É neste ponto que a história, a meu ver, se torna menos do que poderia ter sido, depois de um início mirabolante. As personagens tornam-se relativamente lineares, desastrosas no seu percurso duvidoso, e cada vez menos verosímeis, parecendo haver alguma pressa em resolver os conflitos e arrumar, de forma rápida o enredo.

Ainda assim, depois de tanto defeito, não é um livro mau. Pelo contrário. Até é bom. Infelizmente, começa de forma excepcional, prometendo um nível que não mantém, parecendo haver alguma falta de planeamento ou dificuldade em arranjar um final mais adequado à história (e talvez, mais clássico).