
Esta série fantástica, iniciada com Emily Wilde’s Encyclopaedia of Faeries, usa as fadas mais tradicionais para nos apresentar um mundo onde elas existem, ora na nossa realidade, ora em realidades próprias com portas para a nossa (ou neste, caso, uma equilvalente). Tal como as histórias mais tradicionais, é possível os humanos perderem-se por décadas nos reinos nas fadas, dançarem até à exaustão, ou existirem trocas de bebés. Para além das fadas, existem várias criaturas do mesmo género, como faunos.
A história centra-se em Emily, uma académica que só pensa em publicar o próximo artigo. No primeiro volume ela pretendia também publicar uma enciclopédia, marcando o seu lugar no mundo científico. As aventuras entre criaturas mágicas não só lhe permitiram acumular dados preciosos para a enciclopédia e meia dúzia de artigos, como lhe permitiram descobrir que o seu colega Wendell é, na verdade, um príncipe do reino das fadas – um que, para além de ter alguns poderes, opera numa lógica muito peculiar.
Apesar das suas origens, Wendell é fascinado por Emily, incitando-a a um noivado. Ainda que tenha alguns sentimentos por Wendell, Emily é mais objectiva, pesando o que significará ser a rainha de um reino das fadas, se se casar com Wendell. E se Wendell sobreviver às tentativas de assassinato de que está a ser alvo, ordenadas pela madrasta, a actual ocupante do trono. Mas para tal, Wendell terá de encontrar o caminho de volta para o seu reino, e acaba por convencer Emily a investigar a existência de uma porta, no meio dos Alpes austríacos.



Entre a pesquisa pelas portas, e as sucessivas tentativas de assassinato, por criaturas mágicas cada vez mais temíveis, inicia-se uma expedição nos montes gelados que há-de colocar todos em perigo mais do que uma vez. Aquela localização é prolífera em fadas, existindo várias portas por explorar – algumas que levam ao covil de alguma criatura furiosa, outras que levam por caminhos menos seguros.
Tal como no primeiro volume, Emily continua a mostrar dificuldade em estabelecer ligações com outras pessoas, não percebendo como cativar e demonstrar empatia. Já Wendell, apesar das suas origens (ou sobretudo por isso) consegue encantar a sua audiência e compensar os desatinos de Emily. Mas, derivado de uma das tentativas de assassinato, Wendell está fraco, passando vários dias a dormir e tendo dificuldades em usar a sua magia. Nada que Emily, destemida, não ultrapasse.
Ao longo deste volume acompanhamos as personagens já conhecidas em novas aventuras, ainda que existam algumas (contidas) referências às ocorrências do primeiro volume. A história não perde tempo em fazer apresentações ou rever o passado, começando logo em grande com um dos mais movimentados episódios. Outro aspecto que se viu no primeiro volume e que é aplicado também aqui, é o foco no essencial. A autora refere apenas os momentos chave para se perceber o que acontece, não existindo momentos sem utilidade narrativa.



Não sinto que tivesse existido um grande desenvolvimento das personagens. Decorrendo das circunstâncias temos novos dados sobre elas (e sobretudo, sobre as ligações familiares) e as dinâmicas evoluem, fruto da maior convivência. Existem acções e decisões que são um pouco mais previsíveis, visto que existe uma linha de coerência com o que as personagens já fizeram no primeiro volume, estando o factor de interesse sobretudo nas novas personagens que, claro, introduzem novas dinâmicas.
Um dos factores mais interessantes nesta série (e que se manteve no segundo volume) é a forma como o romance se desenvolve. Percebemos que existe envolvimento entre os dois, Wendell e Emily, mas este envolvimento não se torna o cerne da história – que, aliás, é contada por Emily, sob a forma de notas de objectivo académico. O relacionamento tem impacto nalgumas decisões, mas a história foca-se bastante nas curiosas interacções com as criaturas mágicas, que aqui, parecem bastante mais perigosas e agressivas.
A tensão é maior ao longo da história. Wendell está nitidamente em perigo, e as circunstâncias levam-nos a confrontos mais violentos e desafiantes. Para além das criaturas que os caçam, as que existem na região são, também, mais imprevisíveis e reconhecíveis como agressivas, levando a que o ambiente seja mais opressivo, sentindo-se nas expedições que as personagens vão realizando.
O resultado é um livro envolvente, que arrisca em mudar alguns detalhes, e consegue manter o interesse do primeiro. A leitura é fluída, usando a base narrativa construída no primeiro volume, mas sem se colar tanto a ela que não desenvolva as suas próprias diferenças. No final, teria corrido a ler o terceiro volume – isto é, se ele já tivesse sido publicado. Lá terei de esperar até Fevereiro.