Jonas Fink foi publicado recentemente pela Arte de Autor em dois volumes duplos em Portugal, que reúnem os quatro volumes da história. Não era uma história que conhecesse previamente e não sabia muito bem o que esperar. O que encontrei foi uma história que serve para apresentar o clima político em Praga ao longo de décadas, ao mesmo tempo que explora o crescimento emocional de Jonas Fink, de adolescente, a adulto.



Jonas Fink é o nome da personagem principal, o jovem rapaz que nos é apresentado no primeiro volume que vê a sua vida virada do avesso quando o pai é considerado um inimigo do povo e, por isso, preso sem justificações. Forçado a abandonar a escola, o jovem tem um apego especial por livros. Inicialmente vai exercendo vários trabalhos, até conseguir uma posição numa livraria.
Centro de acesso cultural, a livraria é mais do que um local onde se encontram livros e não é de estranhar que em torno dela surja alguma actividade de resistência. Na sua própria forma mais naive, Jonas vai-se envolver com um grupo de estudantes, também eles resistentes, ainda que executando pequenos actos rebeldes inconsequentes.



O segundo volume leva-nos novamente à cidade de Praga, onde Jonas é agora um adulto. A onda política agora é oposta, ainda que restem grupos comunistas que pretendem a volta do regime estalinista. Entre revoluções e contra-revoluções, Jonas reencontra uma paixão antiga, mas as circunstâncias pessoais em que se encontram vai ditar um desenvolvimento menos romântico do que o esperado, onde cada um vai ter de assumir responsabilidades.
Entre o primeiro e o segundo volume, sente-se o crescer das personagens e das perspectivas. Os actos rebeldes que antes praticavam, quase sem consequências, levam estes jovens a desenvolver-se em adultos ligeiramente desafiadores, o que, nas revoluções e contra-revoluções, terá graves consequências. Apesar da aparente desenvoltura e consequência, a verdade é que este espírito desafiador atrairá as atenções erradas.



Do ponto de vista pessoal, também os relacionamentos são menos inocentes, havendo uma complexidade nas personalidades, aliada aos diferentes circuitos sociais, que resulta em interacções menos genuínas e menos suaves. As circunstâncias mudam e ainda que algumas personagens tentem reviver tempos passados, existem novas responsabilidades.
Para além da dimensão pessoal das personagens, Jonas Fink é interessante sobretudo pela perspectiva política, demonstrando as perseguições, o clima de medo e de opressão (neste caso com foco nos judeus) e apresentando um olhar próximo daqueles que sofrem as consequências do regime na pele. E ainda que existam momentos em que parece existir uma nova realidade, a verdade é que os perigos permanecem na sombra, à espera de novas oportunidades para impor regimes totalitários.



Não conhecia esta novela gráfica que, ainda por cima, tem dois volumes. Muito obrigado pela partilha, estou curiosa para os ler!
🙂 de nada! Espero que aprecie a leitura!