Eis outro retrato da ditadura Salazarista por autoria estrangeira. Se, em As paredes têm ouvidos, a história apresentava as atrocidades da ditadura mas sem uma forte narrativa e sem seguirmos de forma próxima algumas personagens, e se, em Maria e Salazar o foco estava nos que fugiam à miséria portuguesa e procuravam novas condições noutros países; em Ao Som do Fado temos uma narrativa forte, centrada numa única personagem aproveitando-a para criar empatia e ligação com o leitor, enquanto demonstra como as coisas aconteciam em ditadura.

A história

Fernando Pais é médico. Vive entre o consultório médico, as idas à PIDE para tratar dos prisioneiros e os romances ocasionais. Mas a sua existência esconde uma experiência romântica traumática, associada ao regime em ditadura. Empático, vai-se envolvendo com as algumas pessoas que podem tornar-se alvo da PIDE, traçando caminhos já antes traçados que lhe recordarão o passado.

O clima político é de tensão. Salazar caiu da cadeira, lesionando-se gravemente e existe incerteza quanto à sua sobrevivência. Os homens jovens continuam a ser enviados para uma Guerra Colonial que ninguém compreende verdadeiramente. As mulheres jovens esperam-nos. Na capital do país a PIDE aterroriza os cidadãos com brutais técnicas de interrogatório que deixam marcas físicas e psicológicas.

A narrativa

A história centra-se no médico, mostrando-nos como interage com os que o rodeiam e como intervém nas situações com as quais se depara. Apesar de não se envolver propositadamente em iniciativas políticas, acaba por se ver no meio ou por assistir a situações complexas. Esta forma de apresentar as circunstâncias é envolvente e faz-nos criar empatia para com as personagens.

Ao Som do Fado é um excelente retrato do período anterior ao 25 de Abril que recorre a conversas e detalhes no comportamento para deixar perceber o ambiente de censura e medo que se vivia. Tal depreende-se pela forma como as personagens interagem, bem como pela forma como deixam buracos na conversa.

Conclusão

O Som do Fado é uma leitura que surpreende de duas formas. Por um lado retrata a ditadura Salazarista directamente, usando conversas e episódios que acontecem às personagens. Por outro, é uma leitura envolvente que demonstra boas capacidades narrativas, tornando-se uma boa leitura.

Este volume foi publicado na colecção Novela Gráfica da Levoir em parceria com o jornal Público.