Lançado pela Norma há uns mesitos, este foi um dos lançamentos de banda desenhada no género fantástico que mais me entusiasmou, a par com El Caballero del Dragon. Mas se este último desiludiu um pouco pela simplicidade da abordagem e da adaptação, La Ciénaga fascinou pela estranheza dos elementos fantásticos e pelo desenho peculiar.

A história começa por nos apresentar um homem que foge com uma bebé. Esta criança não será nada menos que a princesa herdeira, que, com pouco tempo de vida, fica sem mãe, morta em circunstâncias suspeitas, para vantagem de uma nobreza sedenta de poder. Não será a única vítima – até porque esta nobreza procura alguém que possa manipular facilmente.

A expectativa que criamos seria a de que esta bebé se safasse e viesse a ser a revelar-se futuramente a herdeira do trono. Mas a narrativa corta as nossas esperanças, com uma carnificina realista e pesarosa, entre perseguidos e inocentes. Os contornos são negros e pelo meio há sim uma criança que se safa – mas talvez não a que esperávamos.

Paralelamente, percebemos que este mundo vive tempos negros. Para além da rainha assassinada, mantém-se a guerra no norte e os planos maléficos do grupo de nobres tornam novos e mais pesados contornos. Já na terra dos banidos, para onde são enviados os criminosos e para onde terá fugido o guerreiro com a bebé, chegam famílias inteiras, incluindo crianças que sem dúvida terão uma índole muito diferente dos condenados que lá vivem.

A história apresenta um mundo fantástico, estranho e sombrio, carregado de detalhes por explicar, que conferem um sentimento permanente de inquietação e alienação. A acompanhar esta estranheza encontramos vários elementos fantásticos pouco usuais, retratados num desenho pouco tradicional, que oscila entre definido e sombrio, rico em cores, visualmente agradável, mas que perpetua o sentimento de alarme constante.

Encontramos criaturas fantásticas e algumas mais mortais, mas que apresentam uma lógica própria, pouco dada a simpatias, que contribuem para a aura sombria. Pouco é explicado. Estas criaturas e as suas formas específicas de agir existem na narrativa independentemente do nosso entendimento – até porque não existem explicações nem facilitismo narrativo.

Ciénaga não é uma história feliz, nem apresenta a vertente mais mágica e positiva das histórias fantásticas. Pelo contrário. É uma história que decorre num mundo complexo e negro, onde as circunstâncias parecem duras para todos os envolvidos e que, apesar de alguns contornos comuns com as normais histórias fantásticas, se afasta dos clichés e se desenvolve de forma muito própria. Por isto tudo, foi uma leitura excepcional, ainda que considero que não será apreciada por quem procura uma história, e desenho, dentro da normalidade fantástica.