Ainda que a história de Dom Quixote de La Mancha seja conhecida, esta adaptação era um dos volumes que mais esperava este ano – isto porque se trata de uma adaptação pela mesma dupla que produziu o fabulo O Inferno de Dante. E, realmente, não desiludiu. Trata-se de uma óptima adaptação do romance que consegue produzir páginas estrondosas.

Para quem não conhece a narrativa, Dom Quixote de La Mancha é uma ode às histórias de cavalheiros mais tradicionais (onde se destaca claro Amadis de Gaula) centrando-se num fidalgo de uma pequena aldeia fascinado com os romances. Tão fascinando que se julga ele próprio um cavalheiro, e resolve partir em grandes aventuras, escolhendo um cavalo e um escudeiro, bem como uma dama como inspiração.

Convencendo um pobre (e simples) homem da possibilidade de riquezas, parte então em demanda com o seu Sancho, enfrentando os desafios que vai encontrando pelo caminho. Na sua mente, os moinhos transformam-se em gigantes, os padres em figuras sombrias e as estátuas em damas em perigo. Todos os momentos se transformam em grandiosas batalhas para Dom Quixote, ainda que, para quem o observe, os episódios sejam ridículos e, até, cómicos.

Dom Quixote de la Mancha é um clássico – e tal como em O Inferno de Dante, a dupla consegue captar a essência da história, transmitindo o espírito demente e aventureiro do cavalheiro, mostrar-nos as suas ilusões. Mas não se fica por aí, mostrando também a preocupação dos que o rodeiam e tentam proteger de si mesmo, bem como aqueles que sofrearam com as desventuras e aqueles que se deixaram levar pelo espírito de aventura – com um ligeiro toque pessoal em torno de alguns detalhes.

Em termos visuais, a maioria das páginas são a preto e branco, com grande nível de detalhe e realismo, existindo, também, algumas páginas a cores, principalmente nas passagens mais surreais. Os desenhos a preto e branco transmitem bastante movimento, o que se adequa ao espírito aventureiro de D. Quixote. Já as páginas a cores apresentam quase sempre um único desenho em tons pastel, retratando os episódios mais rocambolescos. Para além dos desenhos, outro aspecto que se destaca neste volume é a qualidade da edição, em capa dura e página de maior tamanho, bem como as páginas de extra no final.

Esta não é a primeira adaptação de Dom Quixote de La Mancha para banda desenhada, publicado em Portugal. Há alguns (poucos) anos, foi lançada uma edição na colecção de Clássicos da Literatura em BD. Ainda que esta adaptação estivesse relativamente boa (e acima de outros volumes da colecção), esta adaptação de Paul e Gaetan Brizzi está, claro, bastante acima – principalmente na qualidade dos desenhos e na qualidade da edição.

As expectativas associadas a esta versão de Dom Quixote de La Mancha adaptada por Paul e Gaetan Brizzi eram elevadas – mas foram cumpridas. A narrativa flui com facilidade, transmitindo o essencial mas mantendo o espírito do clássico e os desenhos, detalhados, são fabulosos.