Depois de ter adorado o primeiro volume de Murderbot Diaries (publicado em português como Sistemas em Estado Crítico pela Relógio d’Água) optei por começar a adquirir os restantes em inglês, na edição em capa dura da Tor (sim, existe outra, em capa mole e volumes duplos). Existem, também, contos disponíveis gratuitamente neste Universo.

Um andróide de segurança encontra-se no centro da narrativa. Neste caso, trata-se de um andróide que conseguiu libertar-se das normais restrições e ter um pensamento independente, ainda que aja como se fosse controlado por um sistema central. O andróide não só antecipa o tipo de ordens que vai receber, como ajusta o sistema central para parecer que as recebeu dele. Isso foi visível tanto no conto The Future of Work – Compulsory, como no primeiro volume.

Esta necessidade, de ajustar o sistema central, deriva do facto de, como andróide não ter direitos à independência de pensamento, tendo de ocultar a sua personalidade e as suas capacidades. No final do primeiro volume é-lhe oferecida uma saída, mas o andróide possui uma prioridade – descobrir o que aconteceu no incidente das minas (onde teoricamente terá morto humanos). Para tal irá navegar pela galáxia, ocultando a sua identidade e natureza, até conseguir encontrar informações.

Depois de uma aventura tensa em Artificial Condition, onde, novamente, usa as suas capacidades para salvar vários humanos (ainda que não tivesse de o fazer), o andróide continua em busca de informação sobre a empresa que o detinha anteriormente (GrayCris) colocando-se a bordo de uma nave que irá prosseguir para uma estação espacial associada a uma terraformação falhada. Mas a nave que esperava estar vazia irá receber tripulantes, tendo que se esconder.

A missão que se esperava calma revela-se muito mais movimentada quando, para além dos dois tripulantes, entram mais dois agentes de segurança que irão explorar a tal estação espacial. Mas ao invés de estar vazia, revela-se rapidamente uma armadilha mortal, com robots assassinos.

Tal como nos volumes anteriores, a história oscila entre episódios extremamente movimentados e violentos, com episódios de introspecção onde se exploram algumas questões sobre identidade e integração social. O andróide possui duas partes, uma orgânica e outra mecânica, sendo que apresenta empatia para com os humanos mas tem dificuldades de integração social, até porque não está habituado a ser tratado como uma entidade de direito próprio.

Adicionalmente, tal como no volume anterior, o volume explora os relacionamentos entre máquinas diferentes, com níveis de inteligência distintos mas com as quais é possível empatizar, pela forma como são descritas as interacções com elas. Neste caso, existe um pequeno robot tarefeiro, com capacidade limitada mas que coloca em primeiro plano a protecção dos seus amigos.

Apesar dos momentos mais introspectivos (alguns proporcionados mais pela percepção do que acontece do que por descrição da própria autora), a narrativa é relativamente directa, dizendo apenas o suficiente e sem se alongar. A par com os episódios de maior acção, esta forma sucinta faz com que seja uma leitura ritmada, que mantém o interesse constante, sentindo-se a tensão dos momentos que antecedem os confrontos.

O mundo é interessante, mostrando, como é habitual nalgumas narrativas de Space Opera, uma vertente curiosa sobre o mundo das corporações – demasiado poderosas e demasiado ricas, com múltiplos interesses e capazes de camuflar as verdadeiras intenções, bem como mortes e grandes esquemas financeiros. Existe uma permanente desconfiança – e com razão, pelo menos neste Universo onde percebemos que a verdade tem muitas versões.

Até agora, a série cativou-me e convenceu-me a ler não só os restantes livros, mas também outras obras da autora que me parecem enquadrar-se no meu género de leitura. É uma leitura movimentada, carregada de elementos irónicos e socialmente críticos, que tem a sua dose controlada de introspecção, e que, de alguma forma, consegue fazer-nos sentir empatia por uma personagem que não é totalmente humana.