Soturno, deprimente, tecnologicamente avassalador. Animal’Z decorre numa realidade devastada com pequenas pistas para desastres nucleares com decadência ecológica e consequentemente declínio da civilização.
Existem sobreviventes – sobretudo melancólicos e eremitas, homens e mulheres de poucas palavras que persistem, sozinhos ou em pequenos grupos, recorrendo, quase sempre, a tecnologia bastante avançada ou constituindo, eles próprios, tecnologia bastante avançada.
Se a humanidade está em declínio e os seres humanos restantes são poucos, não é decerto com esta história que se encontra a salvação da espécie. Nos primeiros momentos assistimos à morte de mais uns poucos elementos, sem grande dó nem piedade, mortes necessárias para a concretização de um objectivo.
Isolamento e trauma. Os primeiros momentos mostram fragilidades de algumas personagens solitárias, umas que respondem sarcasticamente, num misto de bílis com humor peculiar, outras que se afundam em depressão, pena e arrependimento. Nada disto os salva ou previne perante um humano híbrido, capaz de se transformar em golfinho que tem uma missão a cumprir.
O desenvolvimento de híbridos em laboratório, através de experiências, dando, a alguns seres humanos, capacidades de alguns animais, poderia ser um passo evolutivo interessante, não fossem estes seres humanos únicos e pouco sociáveis, seres que os restantes seres humanos não entendem e que causam estranheza nos próprios animais.
A sombra que persiste na mente das personagens que encontramos reflecte-se no mundo que os rodeia, acizentado e pouco definido, onde encontramos pequenas indicações de desgraças ecológicas, até nucleares. Estes desastres terão levado ao aparecimento de famílias de vida diferente, horripilante – a loucura instala-se lentamente.
O final não é totalmente conclusivo, mas deixa as personagens em melhor situação emocional do que aquela em que as encontrámos, apesar do local inóspito e deprimente, sentimentos contagiantes que fazem com que os prolíferos episódios de acção sejam percepcionados quase apaticamente.
Entenda-se – o livro em si não é apático, nem nos deixa ilesos. É uma leitura brutal pela forma como capta a nostalgia de um mundo em aparente declínio e desencanto tecnológico. Mas é exactamente esse contexto que faz as acções violentas parecerem quase comuns.



