Depois de conhecer Zidrou através de Verões Felizes, série publicada em Portugal pela Arte de Autor, tenho aproveitado a Cult conseguir os livros do mercado espanhol para ler outras obras do autor lançadas pela Norma. Neste caso a obra tem desenho de Lafebre, o autor de outro lançamento recente da Arte de Autor, Apesar de tudo.

A história

Uma mulher dá à luz um nado morto. Esta mulher, de mente simples, não enfrenta a realidade e acaba por acreditar que a filha nasceu, vendo-a como se existisse. Esta criança invisível vai crescendo e novos obstáculos vão sendo ultrapassados. Paralelamente, a vizinhança apercebe-se e envolve-se na simulação, fingindo que a criança existe. De crianças a adultos, todos fazem parte da farsa que tem como objectivo manter a alegria daquela mulher.

Se a criança realmente é uma invenção, ou se apenas invisível é algo que a narrativa não define. Se, para alguns, nitidamente não existe, outros apresentam referências inventadas com demasiados elementos em comum.

Opinião

A história tem um gosto agridoce. Por um lado esta mulher tem uma vida carregada de desgraças. Por outro, a realidade que a rodeia, com uma filha que só ela vê, realiza-a e mantém-na feliz. A forma como os restantes vizinhos e familiares deixam avançar a farsa é também algo dúbio – questionamo-nos até que ponto é psicologicamente saudável, mas, no fim, podemos chegar à conclusão de que se trata de uma mentira piedosa que permite àquela mulher viver com alguma alegria.

É, no entanto, uma mentira contagiosa. As crianças fingem ter mais uma colega de escola com quem brincar e os adultos dão espaço a mais uma suposta criança. Até o médico atende às urgências nocturnas de uma criança invisível com febre – detalhes que contém a dualidade de serem enternecedores apesar de falsos, e que fazem desta história uma narrativa excelente.

Visualmente, é uma história extremamente expressiva e cativante, em que os desenhos não só acompanham a história, mas compõem grande parte da emoção narrativa. Um casamento perfeito entre arte e narrativa que, não fornecendo páginas visualmente brutais, se destaca pelo sentimento que transmite.

Conclusão

Lydie é uma história excepcional que, partindo de uma premissa agridoce, emociona e envolve. Uma grande leitura que ameaçaria tornar-se numa das favoritas, não fosse a sucessão de histórias excelentes que tenho lido recentemente.