Quem é o vilão? O traficante ou a polícia corrupta? Em Olimpo Tropical retrata-se a realidade da favela onde os estudos são largados cedo por falta de sucesso, a favor das ocupações de mais fácil dinheiro, quase sempre relacionadas com o tráfego de droga e a criminalidade. Quem manda é quem se mostra mais destemido, quase louco, na sua capacidade de se fazer temer pelos outros.

Em tom de caricatura, representando as várias personagens que podemos encontrar neste mundo, mas conseguindo envolver o leitor nas pequenas histórias pessoais e criar empatia, Olimpo Tropical tem como personagem principal um jovem, Biúca, com uma perna torta, que não o deixa aspirar a ser um grande criminoso. Ou melhor, ele até aspira, mas os restantes dificilmente o vêem nesse papel.

Sobra-lhe um lugar de vigia, sentado ao cimo das escadas pelas quais a polícia poderá invadir o morro quando faltar o dinheiro dos subornos. Cabe-lhe não se deixar adormecer sob pena de ser eliminado. Entre o terror da possível distração e a perspectiva agri-doce de disparar sob os polícias (que terão morto o irmão), Biúca demostra o seu fascínio por uma jovem que nem sempre parece retribuir – reacção típica da adolescência.

Visualmente expressivo, exagerado em expressões e traços físicos, Olimpo Tropical é um trabalho excelente que é capaz de cativar o leitor, fazendo-nos perceber a realidade inevitável das favelas que engole os seus moradores num ciclo interminável.

Olimpo Tropical foi publicado pela Polvo.