
Com traduções para inúmeros idiomas, pode-se dizer que Blacksad já se tornou um clássico da banda desenhada. Ainda que ambos os autores sejam espanhóis, este lançamento foi inicialmente direccionado para o mercado francês, mas acabou por ser publicado em mais de 20 idiomas. Entre os prémios que recebeu, a série conta com dois Eisner e um prémio de Angoulême (citando apenas os mais relevantes).

Mas afinal o que é Blacksad? Blacksad é o nome da personagem principal – um detective hard-boiled dos anos 50 que investiga assassinatos e desaparecimentos, num típico ambiente deste tipo de histórias. Bem, a premissa não é propriamente original – o que é original é o facto das personagens terem características animais.

Blacksad revela-se um coração de manteiga, casmurro e persistente. Algo usual neste tipo de histórias em que por detrás de uma aparência dura existe uma pessoa mais sensível que esconde os seus sentimentos. A história é narrada na perspectiva do próprio detective, apresentando-se os seus pensamentos e percepções do que o rodeia – algo também usual neste género.

Este volume contém as três primeiras histórias da personagem: Somewhere within the shadows, Arctic Nation e Red Soul. A primeira é uma história mais típica, onde não falta sequer a femme fatale, sendo que as duas seguintes apresentam questões políticas e sociais – racismo e comunismo.

Somewhere within the shadows começa com o assassinato de uma mulher – uma ex-namorada que nunca gostou de exclusividade numa relação mas que marcou Blacksad. Após uma curta conversa com a polícia, Blacksad percebe que o assassinato da jovem foi encomendado por alguém com muito poder.

Arctic Nation decorre numa terriola onde a supremacia branca aumenta, levando à opressão e bullying de todos os que não se enquadram nos ideais propagados. O que começa como um aparentemente simples caso de desaparecimento acaba como uma intensa revelação social – da qual poucas personagens se irão aperceber.

Em Red Soul discute-se política. Blacksad reencontra um antigo professor que recorda com carinho. Este reencontro irá levá-lo a assistir a atentados políticos que terão uma reviravolta inesperada. Blacksad irá apaixonar-se, mas o romance não corre, claro, como esperado.

Apesar dos detalhes cliché de detective durão (que funcionam bem neste tipo de histórias) Blacksad destaca-se por apresentar personagens com características físicas de animais – características estas que terão alguma equivalência com o seu perfil psicológico.

Visualmente, Blacksad é excelente. Cores sublimes e expressividade em imagens que apresentam maior ou menor nível de detalhe consoante a situação, focando movimentos ou expressões, ou demonstrando o panorama geral da situação.

Os clichés do género são facilmente encontrados nas histórias mas são bem usados pelos autores para criar boas histórias, relativamente curtas, mas com todos os elementos essenciais para o seu desenvolvimento e compreensão.
Os próximos volumes já se encontram a caminho!