
Já decorreu mais de uma década desde o primeiro volume de O Corvo, série de Luís Louro publicada inicialmente pela Asa. A edição agora é da Ala dos Livros e a série ficou, sem dúvida, a ganhar com a mudança. Mas não foi só a editora que mudou para melhor. Este Inconsciência Tranquila destaca-se pela grande evolução no desenho e na narrativa e decerto marcará o mercado português de 2020.

Todo o herói precisa de um vilão. O Corvo não é excepção. Neste volume surge o seu… Némequê… Mêne… Némesis! De nome combustão, este vilão irascível está sempre prestes a entrar em chamas, não fosse esquecer-se, por vezes, do fósforo!

Entre os efeitos da sua kryptonite (chamuças) e a tentativa de devolver comprimidos a um convento, o Corvo continua a realizar uma interpretação peculiar dos acontecimentos – decerto influenciada pela educação excessivamente tradicional e conservadora.

Mas enquanto o Corvo se tenta manter afastado de pensamentos pecaminosos, o mesmo não se pode dizer do que o rodeia. A vida da noite está carregada de perversidade, tráfico e muita loucura – uma visão que estaria acessível a quem ocupa os telhados, mas que nem sempre é atingível pelo Corvo.

Esta oposição de perversidade com conservadorismo é algo que caracteriza a série, mas que tomou uma nova dimensão neste volume. O Corvo encontra-se entre a caricatura do tradicional português e a do super herói honrado, a quem foi dada uma certa dose de distracção ou ingenuidade. O humor é peculiar. Por vezes corrosivo. As piadas e as situações constrangedoras são constantes, resultando numa leitura bem disposta e divertida.

Em termos visuais, este volume de Corvo é muito arrojado. Mantendo Lisboa como palco da acção (com o herói que vigia a cidade do topo dos detalhados) e um enquadramento escuro (ou não estivéssemos de noite), encontramos traficantes, vilões, máfias e dominadoras de chicote.

As personagens apresentam posses e expressões exageradas em desenhos com alguma profundidade e detalhe (q.b. numa história de grande acção). Apesar do tom escuro, o autor consegue um interessante (e estimulante) jogo de cores, destacado por uma disposição pouco tradicional das vinhetas.

A combinação de todos estes elementos visuais e narrativos resulta num volume que proporciona elevada diversão, não aconselhável a leitores sensíveis e conservadores. Os episódios mirabolantes (e perversos) sucedem-se! Divertido e moderno, este volume de Corvo ultrapassa todos os limites da moral e dos bons costumes!
O livro pode ser encomendado directamente na página da editora.