A produção de Luís Louro parece ter aumentado e diversificado nos últimos anos. Pelo menos o que tenho lido e o que tem vindo a ser publicado. Entre Watchers, Covidiotas e o seu herói O Corvo, o autor destaca-se pelos desenhos mesmerizantes e humor peculiar. Este Dante é o seu mais recente lançamento pela editora Ala dos Livros, mesmo a tempo do Festival de Beja (ao qual este ano não pude ir).

A história

A narrativa leva-nos a França, mais propriamente a uma quinta ocupada por alguns soldados nazi, que procuram um avião caído. Nesta quinta vive uma mulher invisual e o seu filho, que acabam por se tornar alvo da agressividade dos soldados, apesar da simpatia e civilidade do major.

É neste seguimento que o rapaz, dando de caras com o avião caído, acaba por enfrentar um destes soldados e se embrenha na medosa floresta, acompanhado por um espantalho. Aqui descobre as usuais criaturas fantásticas do bosque. bem como os trolls (nazis transformados) que as habitam e que parecem atemorizar todos.

Crítica

A história segue uma linha narrativa semelhante a várias histórias centradas em jovens heróis. O rapaz, corajoso, acaba numa realidade mágica (ou alternativa) a enfrentar monstros, representação das criaturas reais que o atormentam no mundo real. Existem bons e maus, mas também aqueles que, não começando totalmente maus, se deixam corromper totalmente.

Não é, no entanto, um livro para crianças, existindo algum conteúdo mais adulto, apesar dos desenhos coloridos e fofinhos. Aliás, este contraste é algo que encontramos em vários livros do autor – entre desenhos coloridos e cenas fantásticas, encontramos, também, cenas de violência sexual que impulsionam a narrativa.

Para além do contraste em episódios tão distintos, temos ainda a violência da guerra em cenário bucólico, na qual se destaca uma diferente postura do major alemão – um oficial civilizado e compreensivo, mas incapaz de conter a fúria dos soldados animalescos. Quando, no interior da floresta, o rapaz encontra os trolls, voltamos a ser confrontados com soldados animalescos (neste caso burros) mas desta vez comandados por uma criatura corrupta e corrompida.

Tal como na vida real, as criaturas fantásticas de bom coração, são remetidas para o canto da floresta, vivendo em medo da presença dos trolls. Resta-nos o rapaz, Dante, que agindo entre a coragem e a ingenuidade, enfrenta ambas as situações.

A narrativa é relativamente simples. Quase sempre centrada no rapaz, com uma premissa fantástica clássica, que o autor subverte no seu próprio estilo. É esta subversão que lhe dá o tom distintivo e que faz do resultado narrativo uma história interessante e movimentada.

A narrativa é uma referência solta a Dante, existindo algumas menções ou paralelismos ligeiros. Existem, também, referências a pessoas reais do mundo da banda desenhada português, um género de “easter egg” já reconhecido noutras obras de Luís Louro.

A complementar a narrativa encontramos um desenho digital fabuloso com cores fortes e muita luz, onde se retratam as personagens humans e fantásticas. O desenho é expressivo, com ligeiros exageros nas proporções, e o autor joga com os limites dos próprios quadrados para realçar alguns momentos – uma técnica usada noutros livros que funciona melhor nalgumas páginas do que noutras. Como único ponto negativo a nível visual, diria que nalgumas páginas, a densidade cromática é muito elevada, levando a alguma confusão visual. Detalhes já que o resultado final é fabuloso.

Conclusão

Esta é, sem dúvida, mais uma excelente leitura da autoria de Luís Louro. O tipo de humor não é, decerto para todos, mas o desenho é fabuloso, a história é movimentada e os traços narrativos de história fantástica têm o tom devido para os fãs do género. Há que ter em atenção que não é uma história para crianças.

Este volume foi lançado pela Ala dos Livros, destacando-se o cuidado com a edição (apesar de não ser a especial, já que eu me distraí com os dias). À semelhança de outras edições desta editora destaca-se pela qualidade e pelo caderno de extras.