Há muitos anos que não lia nada de Laura Esquivel – mas tal como em Água para Chocolate, a autora presenteia-nos com um romance (neste caso moderno) onde se exploram as raízes e as paixões, intercalando a narrativa com uma excelente banda sonora.

Em O Meu Negro Passado uma mulher, Maria, é surpreendida pelo nascimento do seu filho de pele escura. Surpreendida porque ambos os pais têm pele clara e Maria desconhece qualquer antepassado de cor. O nascimento causa polémica, tanto na própria família, como pelo marido que resolve abandoná-la.

A reviravolta acontece com a morte da mãe de Maria, conhecendo assim a avó que lhe apresenta as suas verdadeiras raízes: não só toda a diversidade dos seus antepassados, como as tradições em torno da comida e a história de alguns familiares (que já foi explorada pela autora noutros livros).

Envolta nalguns elementos fantásticos que levam à classificação de O Meu Negro Passado como realismo mágico, a história leva a explorar aquilo que realmente alguém quer, desprendendo-se das expectativas dos que nos rodeiam. Como já é habitual na autora, existe uma transformação da realidade, para incluir detalhes pouco lógicos, mas que apelam ao sentimento e ao envolvimento e dando à narrativa um sentimento de predestinação.

A leitura é fluída, quase poética, rodeando-se do poder da música para nos fazer entrar no ambiente que se pretende. O texto efectua esta ligação deixando ligações (QR Codes) para músicas – uma adaptação moderna se compararmos com os primeiros livros da autora que incluíam um CD.

Em termos edição, cada capítulo é separado dos restantes por uma página de transição, que contém uma simbologia apropriada a cada momento. Este detalhe, a par com os QR Codes, criam um visual muito próprio neste livro.

O Meu Negro Passado foi publicado em Portugal pela Asa.