
Este é um dos mais recentes lançamentos de ficção científica de autoria portuguesa, sendo que, neste tempo de COVID é, também, um dos poucos que foi publicado. O lançamento decorreu no Festival Contacto, com a presença da autora e do coordenador editorial. A autora já publicou outros livros, destacando-se Julia Felix pela Editorial Presença, um romance histórico passado em Pompeia no Século Primeiro depois de Cristo.
A história
A história decorre num futuro incerto em que a humanidade está a ser exterminada por alienígenas metódicos. A narrativa centra-se numa mulher sobrevivente, habituada a carregar a sua arma e a defender-se, enquanto se esconde na floresta e procura o caminho para a Ilha – um local idílico, a lenda de um sítio habituado só por humanos que resistem e formam uma nova sociedade.
Tendo escapado a mais uma incursão alienígena, esta mulher tenta caçar qualquer coisa – deparando-se com um homem quase indefeso que a poderá atrasar ou mesmo chamar a atenção dos alienígenas. Depois de o ajudar, pensa afastar-se, mas o homem segue-a, precisando de um grande acompanhamento para se safar na selva.
Opinião
Futuro é uma história de sobrevivência em pleno apocalipse, mostrando como dois seres humanos sobrevivem a serem caçados que nem animais. É, também, e sobretudo, uma história de amor e de humanidade. Os dois seres humanos aproximam-se e, apesar de terem feitios demasiado diferentes, a necessidade de sobrevivência aliada à necessidade de proximidade acabam por criar laços.
Mas a humanidade está em declínio. Não só enquanto espécie, mas também enquanto sociedade e civilização. Neste seguimento, as personagens não têm nome, apenas, por vezes, alcunha. A fuga e a luta pela sobrevivência retiraram a normal identidade, e cada pessoa é resumida ao seu essencial – os nomes antigos são, pois, irrelevantes.
Assim, Futuro não é a normal história de ficção científica. Não se centra em tecnologia ou em explicações científicas. Não tenta justificar todos os elementos do enredo. Não se apresenta com um sentimento lógico em todas as suas partes – até porque a história segue sentimentos e pensamentos e estes nem sempre são passíveis de fria percepção lógica. E é neste ponto que a história poderá ser menos agradável para os fãs puros e duros da ficção científica.
Futuro usa o contexto apocalíptico para tecer uma história com urgência e acção, justificando desta forma o foco em duas personagens que realizam a maioria das interacções que assistimos entre humanos nesta história – os dois traumatizados pela perda de familiares e amigos, que acabam por estabelecer um género de aliança útil (que evoluirá para algo mais).
Há, portanto, aspectos de que gostei e outros que não me interessaram tanto. Gostei da premissa e da centralização numa personagem feminina endurecida pela luta pela sobrevivência. Não gostei de toda a parte mais romântica (apesar de ter bons momentos). No intermédio, a sequência de alguns episódios parece tornar-se repetitiva (tensão crescente, resolução por um triz, seguindo-se momentos mais calmos que não são facilmente ultrapassados pelas personagens).
Conclusão
Futuro é um romance que decorre num cenário apocalíptico de ficção científica. Provavelmente não será uma leitura que agradará aos leitores mais duros de ficção científica, faltando-lhe a parte das bases científicas (ou das justificações tecnológicas) para os leitores que estão habituados ao género. Mas deverá agradar a quem goste de romances em cenários de sobrevivência, possuindo um ritmo de thriller na concretização da narrativa que o torna uma leitura rápida. Teria limado algumas páginas para retirar o sentimento repetitivo de que falei anteriormente, mas é, em resumo, uma leitura aprazível que termina de forma pouco habitual, o que lhe confere um interesse adicional.
Muito interessante o tema. A resenha definitivamente me empolgou a ler