
Depois de homenagens a Lucky Luke, A Seita publica A Fera, que nos remete para o Marsupilami de Spirou. A narrativa é de Zidrou, um nome que tem vindo a ficar conhecido no mercado português com Verões Felizes!



A história
A narrativa centra-se num rapaz, François que, não tendo amigos, acolhe qualquer animal que precise de ajuda ou abrigo: um javali, uma toupeira albina, uma coruja surda, uma codorniz depenada, um gato velho, um cão com três patas, um morcego diurno, uma águia que não voa, um perú que faz de galo… Mas o próximo animal que François traz é algo bastante diferente e impossível de caracterizar!
Em paralelo, assistimos ao ambiente escolar que rodeia François. Filho de mãe solteira, resultado de um romance com um soldado, François sofre diariamente às mãos dos colegas. Para além destas circunstâncias (que à data de 1955 eram socialmente mal aceites), as posses financeiras são poucas, o que expõem François à maldade dos colegas.



Crítica
Para além de Verões Felizes, tenho tido oportunidade de ler vários livros de Zidrou publicados em espanhol pela Norma. Algo em que o autor se destaca é a caracterização de personagens, conseguindo, em poucas páginas, deixar-nos perceber o que os motiva e move na narrativa. Também aqui, em A Fera, percebemos como as pessoas se relacionam.
A mãe refila cada vez que chega mais um animal mas, na prática, acaba por aceitar e, até, levar os animais ao veterinário. O rapaz tenta escapar dos colegas maldosos e, em compensação ajuda os animais que vai encontrando. Os colegas estão carregados de preconceitos para com pessoas de outras origens. As mães dos colegas gostariam que o professor fosse mais rígido.
As personagens vão sendo apresentadas em situações caricatas e a forma como se comportam nestas situações acaba por determinar a forma como vemos cada uma delas. Estas situações caricatas servem, também, para demonstrar os relacionamentos, um género de acção-reacção onde percebemos interacções de poder, amizade ou compaixão.
Os desenhos são fabulosos num estilo mais realista do que o original Spirou. Os planos alternam entre a apresentação do local (num desenho mais detalhado que nos permite perceber o enquadramento) e o foco nas personagens, destacando primeiro as posturas corporais e depois as expressões faciais. Ambas (posturas e expressões) são um pouco mais carregadas do que seria natural, como forma de demonstrar estados de espírito e traços de personalidade.
O resultado é fabuloso. É fácil sermos envolvidos pelas personagens e pelos seus dramas. Percebemos as situações em que se encontram e, como tal, acabamos por sentir os seus receios e medos. Para além da fácil empatia, a qualidade visual é excelente, colocando este volume como “mais um” dos grandes lançamentos deste ano no nosso mercado.



Conclusão
Este álbum poderia ser facilmente o melhor de anos anteriores. Este ano concorre com outras obras de peso, mas mesmo assim, não deixará de estar entre os melhores do ano.
